É possível vencer uma guerra interior?
Farofeiros, farofeiras e farofeires, descobri que travo uma guerra interior quase tão longa quanto minha vida e não há perspectiva de vitória. Sempre me pego avaliando condições e tentando resolver problemas que são inerentes a mim, afinal, sou imperfeito e a síndrome de impostor ou o fracasso prematuro sempre ajudam à piorar a situação.
Encontrar tantos problemas, tantas dificuldades, pode ser comum, mas não tenho certeza. Mesmo sabendo que a limitação pode ser o mundo, o capitalismo ou até mesmo as leis da física… Não consigo deixar de me culpar pela falta de algo.
Não me culpo por Paris não ter dado um ou dois caminhões de dinheiro para colocar o Daft Punk no encerramento das olímpiadas. Mas me culpo de não ter condições de fazer mais coisas pelas pessoas ao meu redor. Pode parecer uma comparação absurda, mas é exatamente isso que está dentro de mim e não sei como evitar ou mudar tal sentimento.
Mês passado me culpei pela câmera de foto instantânea da minha esposa ter quebrado. Fiquei encarregado de cuidar dela e, depois de anos, ao tentar usá-la não funcionou. Já queria levar para o conserto – mesmo se fosse algo caro – pois sentia que havia falhado, a umidade talvez tenha sido a vilã… Mas como não pensei que um eletrônico desses pudesse apresentar esse defeito depois de um tempo guardado?
Acontece que, antes de levar o aparelho para a assistência técnica na semana que passou, resolvi testar mais uma vez. Funcionou.
Aí outro sentimento, o de ser inútil, de não saber colocar pilhas direito ou por não ter testado com outras pilhas. Me sinto culpado por não ter lembrado de testar outras pilhas e ter passado por um aborrecimento desnecessário. Aí me aborreço com algo desnecessário mais uma vez e está bola de neve emocional que me derruba todos os dias.
E, honestamente, tenho lembranças de criança onde eu me recriminava e nem imaginava que isso resultaria em uma guerra interior que já dura mais de quatro décadas. Sim, já fiz muita terapia.
Imaginei que quando tivesse passado dos 40 esse sentimento seria apaziguado, mas não é o que aconteceu. Isso contrasta com o autoconhecimento, isso efetivamente é muito maior (talvez até melhor) do que poucos anos atrás. Mesmo assim isso não me trouxe a segurança que deveria trazer, nem trouxe a tranquilidade de viver em um mundo que não quer me ver tranquilo.
Não tenho um talento heroico para reverter tudo o que me arrependo, mas o entendimento de que esse arrependimento não pode afetar minha vida hoje é o que realmente preciso trabalhar. Não há como escapar dessa guerra e minha única opção é batalhar.
Pensamento do Dia
Sei que não acabou, o tecnofeudalismo tá aí para atrapalhar todo mundo… até o saltador de vara.