O que são jogos Abandonwear afinal de contas?
Recentemente – ontem para ser mais exato – abordei uma pauta que para mim é muito importante: jogos velhos. O que nos leva a tratar de assuntos bem políticos como a preservação dos mesmos e sua suposta pirataria.
O streamer e desenvolvedor de games Pirate Software tem uma visão de pirataria que deve ser compartilhada com todos. Prataria não é uma questão social, é uma questão econômica – como a Sony bem sabe – e como o brasileiro médio precisa gastar com outras coisas além games é fácil entender o motivo da pirataria ser tão grande no país. Jason Thor aponta que seu jogo, Heartbound, deveria custa R$ 60 na Steam, mas sua política regionalizada de preços trás o game por apenas R$ 20.
No podcast Pause foi dita uma frase que nunca tinha ouvido falar, mas que faz todo sentido: “Se comprar não é ter, piratear não crime.”
Mas se precisar saber mais sobre pirataria recomendo – mais uma vez – o excelente vídeo do Tavos falando sobre o assunto. É um vídeo longo mas extremamente detalhado e importante.
Resolvida a questão da pirataria, vamos ao que interessa: preservação. O assunto ganhou repercussão após a Ubisoft ter removido sem aviso algum o jogo The Crew (2014) das contas de todos os jogadores – no mundo todo e de todas as plataformas. Você não pode mais jogar o game por maneiras legais. Parece que o capitalismo não se importa com os direitos de propriedade das pessoas comuns no final das contas.
Preservar games não é pirataria, é preservar histórias, seja do mercado, da mídia e até das pessoas. É inegável que nós temos ligações emocionais com os jogos, pode ter ocorrido alguma situação ou apenas nos faz lembrar de épocas e pessoas – algumas as quais pode não mais estar entre nós.
Um dos melhores exemplos hoje foi noticiado aqui em Janeiro de 2024, a NCSoft simplesmente deu uma autorização oficial para que um servidor privado operasse – dentro de suas regras – o MMO City of Heroes, descontinuado em 2012. Imagine só se outras empresas operassem dessa maneira, não só pensando nos lucros com algo que nem funciona direito em computadores ou plataformas atuais.
Do outro lado da preservação temos a Nintendo que cria lojas online e as destrói com uma velocidade assustadora. Com isso diversos jogos das plataformas 3DS e Wii U quase foram perdidas totalmente se o The Completionist não tivesse dinheiro para comprar TODOS os jogos da loja antes que virassem apenas uma lembrança. Os games foram doados para instituições de conservação de memória digital dos EUA. Acredito não precisar entrar em questões financeiras aqui, afinal um jogo atual (não é preciso ser necessariamente novo) da Nintendo hoje não custa menos de R$ 300 (ou R$ 299).
E, acredite se quiser, não são apenas os games que são destruídos, mas vídeos de eventos, trailers e comerciais são recuperados constantemente pelo projeto Noclip Archive no YouTube… Porém já existem empresas (como a Nintendo, sempre ela) que não gostam nem que a memória seja preservada por outros.
O movimento Stop Killing Games tenta fazer um movimento global contra a indústria, principalmente as grandes publicadoras, e sua política de simplesmente apagarem seus jogos – independente do seu consentimento. As ações propostas para o Brasil especialmente são ingênuas, mas já é um começo para impedir que corporações milionárias ditem o que você pode ou não ter.
Por isso é tão importante falarmos – finalmente – do que são os jogos Abandonware.
Apesar de tratarmos especificamente de jogos aqui é preciso entender que qualquer software que perde suporte de sistemas operacionais atuais é um programa abandonado, logo, pode entrar nessa categoria também.
Na França as leis de preservação digital são um pouco melhores que no resto do mundo, o que permite que sites sejam hospedados lá com jogos completos que foram simplesmente abandonados pelas suas criadoras. E, um detalhes importante, essas bibliotecas são todas grátis, nenhuma delas pode comercializar os jogos. Porém, antes de seguir fica o aviso:
NENHUM dos sites citados abaixo atesta a viabilidade de um jogo funcionar no seu PC ou a segurança do mesmo. É preciso que você utilize um antivírus atualizado e sempre (eu disse sempre) permita que o Windows Defender verifique o arquivo. O ideal é que você baixe os jogos e os utilize em uma máquina secundária, mesmo que menos poderosa. Infelizmente as coisas são assim e NENHUM dos sites oferece suporte individual para cada jogo. A maioria dos jogos são de MS-DOS e não nos responsabilizamos por nenhum dos downloads ou sobre o conteúdo que os sites postem. É bom avisar.
O melhor site que encontrei até o momento é o My Abandonware. São mais de 20.000 jogos para download em uma interface bem limpa e compreensível. É muito interessante também acompanhar o ranking de downloads na plataforma.
Já o Museum of Abondonware Video Games possui até jogos em Flash e plataformas que nunca ouvi falar. O Abandonware Games.net é mais simples, mas tem uma boa biblioteca também.
Ainda é um movimento pequeno, mas acredito que no futuro teremos diversas outras bibliotecas – quem sabe algumas mais automatizadas. Os comentários estão abertos caso você queira contribuir com este artigo.
