Lembra do “Lois & Clark” que reprisava na TV? Pois: o ator Dean Cain, eterno Superman da telinha, decidiu trocar a capa azul-vermelha por um colete do ICE, a polícia migratória do regime estadunidense. Numa live, ele disse que já foi “aceito” e será empossado “ASAP” para “ajudar a salvar a América”.
Tudo começou com um vídeo-convite no Insta, repercutido na Fox. Em seguida, Cain falou com oficiais do ICE e ganhou sinal verde. O timing não é coincidência: o DHS acabou de oferecer bônus de US$ 50 mil, perdão de dívidas estudantis e aposentadoria engordada, além de derrubar o limite de idade: agora, qualquer maior de 18 pode se candidatar, seja avô ou TikToker recém-saído do ensino médio.
A jogada acontece no embalo do “One Big Beautiful Bill”, o megapacote aprovado pelo Congresso que despeja US$ 75 bi extras no ICE e projeta contratar mais 10 mil agentes até 2029. A meta oficial? Bater 3 mil prisões de imigrantes por dia.

Antes dessa guinada badge & gun, Cain foi galã noventista, apresentou Ripley’s Believe It or Not! e virou figurinha carimbada em convenções conservadoras. Fora das câmeras, ostenta distintivo de deputy sheriff voluntário, carteirinha da NRA e entrevistas em que já detonava o novo Superman “woke” que James Gunn planeja, dizendo que transformar o herói em metáfora de imigração seria “um erro”.
A recepção foi tudo menos calorosa. O L.A. Times classificou as batidas do ICE como “varreduras inconstitucionais” e lembrou que 65 % dos detidos não têm ficha criminal. Já o Guardian destacou protestos e denúncias de violações de devido processo nas mega-raids de 3 mil prisões diárias. O Daily Beast foi além, chamando Cain de “sidekick da ICE Barbie” e apontando que 7 em cada 10 presos não têm qualquer crime nos EUA.
Enquanto James Gunn apresenta um Superman imigrante e “woke”, o antigo intérprete abraça a ala hard-core da política migratória. É como se o Clark Kent de Gunn pousasse em Metrópolis pedindo inclusão, e o Clark de Cain chegasse algemando todo mundo no Planeta Diário. Moral da história: tem herói que vive o suficiente para se tornar vilão da sua própria história.