The Last of Us Part II não é para qualquer um e o desafio é maior que o game.
Tenho jogado pouco, tenho assistido muitas streams de gente que joga muito melhor que eu. Sou velho, enxergo mal e não sou mais tão habilidoso como na época de Super Mario 3 onde a fase dos trilhos era o ápice da tensão que havia em um game. Por isso, e por diversos outros fatores que explicarei no decorrer deste texto afirmo: The Last of Us Part II não é para qualquer um.
E fique tranquilo, não há grandes spoilers da trama do game. Surpreso? Eu também.
O primeiro game joguei pouco, preferia ficar ao lado da minha esposa assistindo – e palpitando – sobre o que ela deveria ou não fazer. É claro que ficamos chocados com o final do primeiro game, mas compartilhamos da opinião que, apesar da violência Joel estava protegendo quem ele ama. Se certo ou errado é complicado demais definir pois ninguém aqui já esteve em um apocalipse zumbi de fungos.
A segunda parte da história de Ellie está difícil de ser jogada aqui em casa. A violência explícita nos impede de jogar durante o dia na sala. Digamos que não é um jogo indicado para toda a família, por isso o progresso é lento. Mas isso não me impediu de ter visto diversos gameplays online. Mas acalme-se, vou comentar aspectos comuns do jogo, quanto a jogabilidade terei que jogar muito mais.
Assisti na Twitch e no YouTube diversas pessoas correrem para terminar o game rapidamente – alguns apreciavam a paisagem pelo menos. Conforme escrevo esse texto já assisti ao final de The Last of Us Part II pelo menos umas três vezes.
Acompanhei diversos streamers, de idades diferentes, de culturas diferentes, de opiniões diferentes. O motivo para tudo isso é quase um caso de estudo, tenho uma enorme curiosidade na reação das pessoas ao jogo. Principalmente com relação à história.
Junto de outras onze mil pessoas assisti o Cellbit – aquele mesmo – terminar The Last of Us Part II chorando. Ri junto de mais de quarenta mil pessoas assistindo o festival de erros de CohhCarnage. Ver a reação dos streamers e seu público é extremamente interessante. Seja quando aos pontos positivos, seja quanto aos pontos negativos, se há respeito é muito bom ver as diversas opiniões.
E quando falo reação não é por conta da orientação sexual das personagens, tão polemizada por algumas pessoas. E no final de polêmica mesmo só existe a cabeça preconceituosa de quem tenta jogar. Me admiro com a revolta de fãs clubes de ódio, estes só se reúnem para odiar qualquer coisa que não seja algo que eles idolatrem. Esse tipo de observação é preconceituosa e não tem espaço neste tipo de avaliação mais profunda do jogo que pretendo fazer aqui.
Mas voltando ao motivo de The Last of Us Part II não é para qualquer um, quem não faria de tudo para proteger quem ama? O primeiro Last of Us me deixou com essa impressão, de que era um pai fazendo de tudo salvar uma filha.
Para mim fica claro que – como arte – The Last of Us Part II é uma obra que deve ser deliciada em todos os seus detalhes, mesmo aqueles que são imperfeitos. Admito que não é a melhor história que já vi, mas é uma história bem contada e interessante. Seja pelo seu mundo, seja pelos dramas individuais de cada personagem.
E como há drama.
O excesso de violência é forçado mas não é gratuito, e trabalha em função da narrativa. Explica-se por meio da empatia o que cada um faz ali, seja por amor, seja por ódio. Sem falar que mostra claramente é ciclo da violência, sempre esfregando na cara do jogador (as vezes literalmente) que violência gera sempre mais violência não importa as suas boas intenções.
Tenho uma teoria para mim, enquanto o primeiro jogo era sobre mais sobre esperança The Last of Us Part II é sobre desespero. O drama em perceber que o mundo está ruim e não está melhorando, talvez esteja piorando desde que começamos a vislumbrar este mundo. Fica claro que a continuação é bem mais violenta que o jogo original logo de cara. Mais explicito também.
Apesar da violência ser importante para a trama ela não é a força motriz do jogo. Na verdade o que senti ao assistir a história foi extremamente variado: do sentimento fraterno até medo de altura – desculpe, tenho pavor de lugares altos, por isso é importante para mim.
Mas o que transborda junto da violência é a incapacidade das pessoas de dialogar com pessoas diferentes delas. E as diferenças entre as pessoas daquele universo nem são tão grandes assim, todos tem alguma tragédia, alguma perda. Mesmo assim todos preferem criar rivalidades no lugar de pontes.
Em um mundo devastado as pessoas escolhem se odiar no lugar de se unir afim do bem comum. Infelizmente bem parecido com o mundo real de 2020.
Nesse mundo sem perdão e extremamente violento vejo vítimas de um sistema que transforma ou mata as pessoas sem meio termo. Aqueles que não aderem à violência são transformados e podem se tornar reféns do sistema. Aqueles que aderem à violência são apenas um braço do sistema que eles mesmos criaram e alimentaram.
Não vou entrar no mérito do jogo ter – ou ser – uma lição de moral, afinal é um jogo e como em qualquer mídia é entretenimento. O que realmente importa dessa história é o que você tirou dela. Pode ter sido apenas uma diversão, um jogo de explodir zumbis. Ou você pode ter tirado uma lição mais valiosa, talvez que a vingança não compensa. Talvez que ódio gera mais ódio.
Não posso dizer o que você deve tirar de bom dessa experiência, mas se você tirou uma lição boa dela irá concordar comigo quando digo que The Last of Us Part II não é para qualquer um. Se você tem um mínimo de empatia seu estômago deve ter embrulhado algumas vezes.
Se você ainda não jogou saiba que todos os aspectos do jogo são peças de um quebra cabeças que combinadas formam a paisagem de uma casa de madeira ao meio de uma plantação de trigo nos campos de Jackson, Mississippi. Agora cabe a você descobrir o que há dentro dessa casa.
Uma resposta em “The Last of Us Part II não é para qualquer um”
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