Farofeiros e farofeiras,
Nos últimos anos tenho a honra e o desprazer de chamar São Paulo de minha casa. Moro próximo de alguns bares interessantes, incluindo um que tem milk shake de milho e é o único que já vi por aí, também moro próximo de um local que sempre tem enchente e fico ilhado pois não consigo atravessar a avenida no sentido que preciso ir.
Tenho andado muito pela minha São Paulo, principalmente pela avenida Paulista e seus pontos culturais, livrarias, comic shops, lojas e bancas de jornal com bonecos dos Vingadores com o Batman infiltrado. Tenho problemas em andar pela Liberdade, sempre me perco lá. Butantã e Pinheiros estou quase aprendendo a não me perder, mas continuo cheio de raiva do trânsito absurdo na Vila Madalena. Acho o Tucuruvi feio mas acho o Morumbi bonito.
Chamar minha São Paulo de terra da garoa é simplifica-la demais, é a terra dos ciclistas que andam no meio da rua, é a terra dos motoboys que andam como centopeia entre os carros nas marginais Tietê e Pinheiros, terra de gente moderna e retrograda, lar de diferenças gigantescas, mas ainda assim se pode chamar este lugar de casa. Pode ser até uma casa para quem não tem casa, São Paulo lhe abraça, lhe chuta, cospe na sua cara, mas diz que te ama e te leva para passear em diversos lugares exóticos e acabamos esquecendo a parte ruim.
Tenho muito o que reclamar de São Paulo, mas tenho muito o que elogiar também e este pensamento me assusta pois não é só uma relação de amor e ódio, mas é algo que poderia ser resolvido com uma mudança e eu simplesmente não me mudo. Quero muito viver na praia daqui à alguns anos, quero me aposentar cedo e longe daqui mas não fiz nada para concretizar tal façanha inesperada de alguém que cultiva hortaliças na sacada e vai comer pastel na feira todo domingo. Ou toda terça, depende da feira que você vai.
Então minha querida São paulo, fica aqui esta carta de amor e ódio ao mesmo tempo, espero que goste pois vamos ter que conviver um com o outro por mais algum tempo.
Pensamento do Dia: “São Paulo recebe terráqueos de todas as partes do universo. Quem sobrevive em Sampa tira Bagdá de letra. É uma cidade tão caótica quanto eu.” – LEE, Rita