Eu e você gostamos de coisas ruins, é sério.
Não sei se isso pode ser considerado um defeito já que todo mundo tem alguma história parecida. Fato é que invariavelmente gostamos de coisas ruins com uma frequência assustadora, e agora, na era da informação, nosso mal gosto se prolifera de maneira assustadora – mas invisível.
Eu, por exemplo, gostei muito de Star Wars – Despertar da Força e da série do Demolidor do Netflix. Porém isso não muda o fato do filme ser ruim e da séries ter uma história que pouco lembra o personagem do gibi, ter um ator protagonista meia boca e aquele uniforme feio… E sim, até escrevi bem de todos. E nem posso defender muito Os Defensores … Que apesar do final eu curti. É sério, eu gostei daquela bobajada toda.
Outro clássico ruim de doer que me serve de exemplo é o primeiro filme dos X-Men. Os motivos para se elogiar o filme são todos bobagens, mas mesmo assim há quem o defenda com muita convicção. Para mim a única coisa que realmente valeu a pena naquele filme foi o “extra” onde o Homem Aranha surge para ajudar Ciclope, Jean Grey e Tempestade…Sim, algo que nem está no filme.
Os fãs de Zack Snyder são um tipo xiita que admiro – só que não. Posso facilmente compará-la à fãs de políticos: fanáticos, cheios de razão e extremamente protetores da obra do diretor. Gostei de Watchmen, mas não vou defender o filme em nenhuma discussão de rede social não. Não consigo gostar – ou me animar – com notícias sobre filmes de Dune ou Senhor dos Anéis… E sim, já dormi tentando assistir Game of Thrones. MAs tentei.
Tony Stark é um babaca mas isso não faz dos filmes dos Vingadores ruins, mas não dá para falar que são obras de arte de fino trato de roteiro magnânimo. Apesar Vingadores – Guerra Infinita ter um final desesperador e ter feito todo mundo ficar assustado, não podemos chamar de um exemplo do que é uma obra de arte cinematográfica. Pelo menos não para quem acredita que O Fabuloso Destino de Amélie Poulain seja tudo isso.
Os fãs de Xbox, principalmente os brasileiros, são outro exemplo de comunidade que gosta de coisa ruim. Brincadeirinha, só precisava escrever isso para irritar mais ainda essa galera que gosta de ir no meu Twitter me xingar.
Quanto a games é bem engraçado, jogos são comentados negativamente na Steam, possuem preços absurdos e continuam vendendo. Jogos como Ragnarok Online e World of Warcraft não são exatamente bons, nem possuem mecânicas revolucionárias… Mas podem ser divertidos para algumas pessoas – como já foram para mim mas hoje não estou com a mesma paciência para eles.
Nos quadrinhos, principalmente nos comics, vemos absurdos seguidos de absurdos. Já não consumo tudo o que vejo pela frente, estou numa pegada mais moderada… Mas sempre tem espaço no meu coração (e na minha coleção) para mais um gibi dos X-Men. Mesmo se for uma briga de espadinhas.
Um jogo, gibi, um filme ou série sempre estiveram a mercê do gosto individual além das análises técnicas de cada peça. Uma bela arte pode tocar uma pessoa que não liga para um argumento mais profundo, por exemplo. O contrário é mais comum, é verdade, mas isso não quer dizer que uma pessoa deve deixar de gostar de algo ou não só por que um crítico, jornalista, blogueiro ou comentador de posts em alguma rede social não concorda.
Vivemos uma crise de caráter onde pouco se tenta entender as razões de outra pessoa gostar ou não de algo. Não se pode ir contra a manada que você se torna um inimigo, é escorraçado e se torna alvo pronto para ser atacado no primeiro erro. É claro que não posso extrapolar essa fala, ou você é racista ou não é, não há meio termo nesse tipo de coisa… Mas no que é fútil e cultural é possível sim discordar de alguém sem ofender – mesmo que todos os filmes do Deadpool sejam ruins, mas divertidos.
Será que conseguiremos algum dia entender que gostamos de coisas ruins e que isso pode ser bom? Que isso evidencia as nossas diferenças mas pode aproximar pelo carinho por histórias inclusivas e representativas?
Gosto é gosto, mas uma coisa é unanimidade: os desenhos Liefeld são feios demais.
Uma resposta em “Porque gostamos de coisas ruins?”
[…] Porque gostamos de coisas ruins: texto complementar ao assunto aqui do Blog Farofeiros. […]