Oppenheimer é um filme de esquerda e é o melhor de Christopher Nolan.
Oppenheimer é um filme de esquerda e, com isso, Christopher Nolan ENFIM coloca seu pé no Oscar com competitividade. Nolan é um claro fã de Stanley Kubrick; fez seu filme de guerra (Dunkirk), de espaço sideral (Interestelar) e ainda colocou um pé em thrillers de suspense dignos de De Olhos Bem Fechados ou Laranja Mecânica (Memento, Following e Insomnia).
Agora, Nolan focou em ter o seu próprio “Dr. Estranho Amor Ou: Como Aprendi A Parar De Me Preocupar E Amar A Bomba” e o fez de forma praticamente literal: a cena da explosão da bomba atômica, tão esperada ao longo de 2 horas de filme, é brutal, silenciosa e linda.
Em Oppenheimer, Nolan conta uma história atípica para ele. Não é um ficção intensa e fantasiosa como Interestelar ou Inception, é apenas uma história factual com dados científicos. Nolan, porém, não está tão interessado assim na ciência, mesmo que ela esteja lá. O que ele quer mostrar em Oppenheimer é que ele aprendeu a dirigir.
De todos os filmes do diretor queridinho da década, este é o que ele usa e abusa de todos os recursos de direção, edição, montagem e produção que mostrou ter conhecimento ao longo de 12 filmes. E vai mais longe! Se sempre foi criticado pela baixa habilidade de dirigir os atores que seleciona para seus filmes, desta vez ele tira o suco mais rico de Cillian Murphy (J. Robert Oppenheimer) e, sobretudo, Emily Blunt (Kitty Oppenheimer) que está impecável, a forte candidata à atriz coadjuvante do ano. Consegue ajustar também um elenco brutalmente recheado de atores e atrizes de peso: Robert Downey Jr (como Lewis Strauss, o pai da política genocida do partido Democrata), Florence Pugh (Jean Tatlock) e Matt Damon (General Leslie) além de inúmeros outros como Rami Malek e Jack Quaid como figurantes de luxo. Deixo aqui também uma salva de palmas para Jason Clarke que incorpora Roger Robb no papel de inquisidor da arapuca montada para Oppenheimer na disputa com Strauss.
Se em TENET (ou seria TENET?) o diretor mostrou que consegue sim ser terrível e exageradamente didático sem ser chato, em Oppenheimer ele usa esse recurso com inteligência, criando uma narrativa interessante para a disputa política que circundava o criador da bomba e seus mentores.
Este também é o filme mais de esquerda de Nolan. Fica na obra que, mesmo com a romantização do protagonista, o diretor quis mostrar que o grupo de cientistas que vazou os dados aos Soviéticos, o fez por necessidade e para equilibrar o jogo atômico. Na película de 3 horas ele parece querer se redimir e mostrar que mesmo ele, um conservador de carteirinha (mas não um reaça descabido), percebe o mal que os EUA são para o planeta desde que se consolidaram como donos do mundo – justamente após lançar a bomba atômica no Japão. Rola até uma anedota sobre a tradução literal de “propriedade” presente no manifesto comunista de Marx, ponto de divergência entre Oppenheimer e Jean Tatlock, Psiquiatra e militante do Partido Comunista dos EUA (antes do macarthismo perseguir autoritariamente o partido).
Se por muito ele foi desmerecido pela Academia e por críticos de cinema, mesmo agradando desde o público menos exigente até o mais cinéfilo, agora o diretor de 53 anos coloca as mãos na disputa pela estatueta de 2024.
Seu único páreo duro será Barbie de Greta Gerwig – para o qual Nolan deve perder – mas isso por si não tira os méritos de um filme maravilhoso que disputará o Oscars com o maior fenômeno cinematográfico da década.
Nota do Editor: Mas o Dennis não concordou com isso hein. Hmmm.