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O alvo possível

Você é um alvo possível?

Ser vista como forte ou corajosa não é bom. Se você entende que esses adjetivos não são agradáveis é porque, possivelmente, você também é o alvo possível e grande saco de pancadas do seu ou dos seus grupos sociais.

Sei que quem abriu essa coluna, seja por curiosidade ou por hate, talvez não tenha se sentido confortável com a informação do meu desagrado em ser vista socialmente como forte e corajosa, mas explico.

Quando você é uma mulher que performa essa “persona” forte e corajosa, da guerreira que nunca dorme e nunca cansa, automaticamente se coloca como o alvo mais provável e se torna o grande saco de pancadas do seu entorno.

O alvo possível - Kate Bishop - Hawkeye - Blog Farofeiros

Qualquer desconforto que alguém sentir faz com que descarreguem em você as frustrações e as insatisfações, porque para essas pessoas que estão em um momento de instabilidade emocional, você não vai ficar insatisfeita, não vai se sentir atacada e como alguém que demonstra força emocional não se abalará. O problema é que ser o alvo provável dentro dos seus múltiplos círculos sociais cansa. 

O cansaço mental produzido pelo looping de descargas emocionais de outros sobre você é um fardo pesado a se carregar. É preciso paciência, calma e aquela palavra que parece mágica: a tal da empatia. 

Mas veja, esse é um fardo difícil de carregar porque chegará o momento em que o peso será maior do que seus braços suportam e você vai precisar parar um pouco. É nesse exato momento que você entende que é o grande saco de pancadas: você pode receber quantos socos forem necessários, mas não pode revidar porque tal como o objeto inanimado você não pode expressar sentimentos e muito menos dor.

Recentemente tive mais uma experiência de fardos pesados, aqueles que os braços doem de carregar e que você precisa parar, colocar no chão e descansar por alguns minutos antes de seguir seu caminho carregando todo o peso. Nesse momento de pausa, uma insatisfação antiga com um fardo mal embrulhado em um material escorregadio emergiu. A necessidade de dizer que era preciso de um embrulho mais firme, de alças ou de algum artefato que fizesse com que o fardo se tornasse muito difícil (porque fácil nunca é) de carregar saiu de mim.

Parar no meio da estrada, colocar o fardo no chão e dizer pra quem nada carrega que o embrulho era ruim foi suficiente para que o gatilho do saco de pancadas surgisse. E lá se foi todas as pancadas das quais não se pode revidar e toda reclamação dos batedores de que era um saco de pancadas que se movimentava demais pro seu gosto pessoal.

Entre os socos emocionais, os chutes em forma de palavras e as pancadas que chegam em formato de longos áudios lá estava eu. Sem poder revidar, sem poder me ausentar, sem poder ao menos dizer que não merecia receber nenhum daqueles rompantes.

O alvo possível - Kate Bishop - Hawkeye - Blog Farofeiros

Quando você é forte e corajosa não lhe é dado o direito de reclamar, de desabafar ou mesmo de externalizar sentimentos que sejam aqueles que agradam as pessoas à sua volta.

Deixar o fardo? Se esquivar dos golpes? Impossível. Você é forte, é corajosa e aguenta. 

Mas se não aguentar, tudo bem, o círculo se abre e você pode se retirar, mas sem demonstrações de incômodo. Ninguém quer um alvo que se mova e muito menos um saco de pancadas que demonstre sentimentos.

Por Paola Costa

Professora, podcaster e palpiteira. Só falo de temas aleatórios, não reparem a bagunça (ou reparem).

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