MORTE, MORTE, MORTE é um ótimo filme de terror escrito no twitter
Camaradas, para começar a falar de MORTE, MORTE, MORTE preciso explicar algumas coisas. Existe uma coisa nos EUA chamada de “Cultura Woke”, algo como “a cultura do desperto”, um termo usado para descrever pessoas politicamente inclinadas a o progressismo ou ao liberalismo de valores e costumes. É tipificado pela luta por diversidade (de todos os tipos) e pela ideia do politicamente correto.
É o que no Brasil a gente conhece como esquerda, cujo termo correto seria Esquerda Liberal.
Nos EUA, porém, não há uma luta antissistêmica contra o capitalismo. No centro do capitalismo mundial é raro ver grupos grandes difundindo ideias anticapitalistas, geralmente as lutas perambulam uma camada um pouco mais à superfície.
Estou falando disso pois, ao assistir Morte, Morte, Morte (Bodies, bodies, bodies) da diretora Halina Reijn eu me vi diante de um roteiro inteligente que coloca em xeque certos comportamentos que boa parte das pessoas que podem ser consideradas da cultura woke sem cair em certos Rodrigos Constantinismos fuleiros. Vocês sabem do que tô falando, de quando um reaça boomer crítica linguagem neutra, liberdade sexual e pautas relacionadas à diversidade como o diabo criticaria a cruz.
Nos últimos meses vi inúmeros filmes onde esse boomer está presente na entrelinha do roteiro, querendo ridicularizar uma luta por ser parte do lado opressor. Esses filmes pecam em querer satirizar mas ficam parecendo um velho chato que leu Bauman falando da realidade.
Pois bem, em Morte, Morte, Morte Halina fez um roteiro de terror onde os diálogos e as relações entre pessoas estão sempre colocando em cheque a “problematização”. Parece que o filme foi roteirizado no twitter, numa thread onde pessoas questionam um valor moral duvidoso e dali saem textões e mais textões.
Halina faz isso sem querer ridicularizar os temas, ao contrário, trazendo-os pra uma situação onde eles se aplicam e se evidenciam (como saúde mental, o vício em drogas a desigualdade racial e de sexo) mas que são lidados de forma abrupta e brutal. A mágica porém é que estes temas são tão complexos que mesmo quem tenta debatê-los com a seriedade necessária pode enfiar os pés pelas mãos diante de situações extremas.
O toque de terror do filme e o desfecho que mostra que a cadeia de eventos começa por algo completamente corriqueiro e bobo é um círculo perfeito de autocrítica da própria cultura Woke. Quando se pensava haver ali um inimigo que exterminava cada integrante da história um a um, percebe-se que a antecipação por demasiada problematização foi o fator principal que direciona os personagens à própria tragédia.
As atuações são excelentes, os atores todos jovens são muito bons. Destaque para Pete Davidson que tem 29 anos mas passa despercebido por alguém de 18 graças à boa atuação. Sophie (Amanda Stenberg) e Bee (Maria Bakalova) pegam o gancho do meio do filme pra frente e o levam nas costas com qualidade.
Morte, Morte, Morte é um acerto enorme do cinema de terror recente e se coloca na prateleira de melhores do gênero neste ano. Fica junto a praticamente quase qualquer coisa que a produtora A24 tenha colocado a mão recentemente.
É possível fazer críticas à esquerda sem ser um chato reacionário, viu Constantino?