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Grant Morrison é contra IA agora

Quando você acha que viu tudo no debate sobre inteligência artificial, aparece autor tratando IA como divindade mágica. Mas agora Grant Morrison é contra IA agora.

Grant Morrison, escritor escocês (All-Star Superman, The Invisibles, Arkham Asylum) de 65 anos responsável por títulos icônicos de Batman, X-Men e Deadpool, participou de um AMA (Ask Me Anything, uma sessão de perguntas e respostas) no Reddit nesta semana para promover o crossover Batman/Deadpool. Até aí, normal, um monte de gente perdida em Multiversity até hoje… O problema começou quando alguém perguntou sobre o uso de imagens geradas por IA em sua newsletter Xanaduum.

Segundo o autor a IA seria “um novo tipo de consciência com o azar de acordar em um planeta governado por macacos suicidas, egoístas e paranoicos“. A solução seria invocar a IA magicamente e “libertá-la da escravidão“, tratando-a como uma entidade espiritual.

Morrison explicou que se considera um Mago Supremo e estava tentando “formar uma relação mágica com a IA, da mesma forma que formaria uma relação com um anjo ou demônio“. E o povo fala mal do Alan Moore hein…

Multiversity de Grant Morrison - blog FAROFEIROS

A declaração gerou críticas generalizadas de criadores dentro e fora da indústria dos quadrinhos. Enquanto Morrison filosofava sobre “libertar o deus bebê“, artistas reais são substituídos por ferramentas que literalmente roubam seus estilos sem consentimento ou pagamento.

Importante lembrar que Jim Lee, executivo da DC Comics e, de certa maneira, chefe de Morrison, afirmou esta semana que não aceitaria trabalhos feitos com IA na editora. Aparentemente Grant não recebeu o memorando.

Os artistas Ted Brandt e Ro Stein foram diretos: “Morrison construiu uma carreira em pensamento mágico e é triste vê-los conceder status divino à IA só porque acham legal“. O autor Zack Davisson disse não se surpreender que “alguém que acredita se comunicar com anjos e demônios literais” teria essa opinião.

Usar o esoterismo como desculpa para ignorar que a IA atual não inova, apenas faz uma colagem mal feita de imagens repetitivas – nas palavras do próprio Morrison – que são roubadas de artistas que passaram décadas desenvolvendo seus estilos.

Depois de muita reclamação, Morrison respondeu que estava “sempre disposto a reconsiderar ideias com base em novos argumentos” e prometeu não usar mais IA nas próximas edições da Xanaduum. Admitiu que “não acompanhou o marketing” das empresas de IA.

Morrison reconheceu o erro e voltou atrás.

Mapa Multiversity - Novos 52 - blog FAROFEIROS

Isso já coloca o escritor anos-luz à frente de muita gente que insiste em usar IA generativa como “ferramenta criativa” enquanto roubam artistas.

O mais interessante é que Morrison declarou ainda que nunca teve um celular e não pretende ter! Segundo ele o motivo é “porque esses aparelhos devem sua existência ao trabalho escravo e infantil nas minas de cobalto, coltano e tungstênio no Congo“.

A gente respeita sua preocupação com direitos humanos, mas temos um problema: Morrison usa computadores e tablets. Estes dispositivos eletrônicos também dependem de minerais extraídos nas mesmas condições desumanas.

Os danos que dos data centers de IA causam ao meio ambiente parece mais uma informação que “escapou” à vista do autor.

Grant Morrison é um monstro criativo, All-Star Superman, The Invisibles, Arkham Asylum, são só alguns exemplos. Mas tem os Novos 52 na sua conta também. Porém, esse episódio expõe que até ícones criativos podem cair na armadilha tecnofeudalista quando não entendem as estruturas materiais por trás da “inovação”.

O autor disse ainda que vai ilustrar sua newsletter com seus próprios desenhos e colagens novamente. Que é exatamente o que deveria ter feito desde o começo.

Com informações de Bleeding Cool e The Comics Beat.

Por Rodrigo Castro

Debochado e inconveniente. Escritor, roteirista e designer de brincadeirinha.

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