Se gibi não é leitura é o que então?
Farofeiros, farofeires e farofeiras, a minha amiga Paola Costa mandou dissertar sobre o assunto, então irei. Um candidato à cadeira da Academia Brasileira de Letras teria declarado que “Gibi não é leitura”.
Segundo foi noticiado pela mídia a declaração do jornalista James Akel vai contra outro candidato, o quadrinista Maurício de Sousa, simplesmente o criador da Turma da Mônica.
Não sei onde a ABL pega determinados candidatos, mas confesso que o autor de “Marketing Hoteleiro com Experiências” estar na lista me surpreendeu. O livro é de 2001 e, como fui estudante de Turismo, posso afirmar que tal obra nunca foi mencionada na época. Akel também é autor, diretor teatrais: República das Calcinhas, estrelado por Andressa Urach, e Democracia Sem Vergonha. Neste último também atuou como protagonista.
Ao Sr. James me é certo que nunca abriu um gibi propriamente dito. Se o abrisse veria que existem palavras nele escrito e que estas, em conjunto, podem formar tramas e histórias. Algumas dessas histórias são infantis, outras infanto-adolescentes, mas há aqueles que são direcionados para adultos e algumas que podemos chamar de arte – influenciando gerações e outras mídias.
A Turma da Mônica já vendeu no Brasil mais do que muito gibi da Marvel e DC nos EUA. Gibi já virou filme, já virou série. Gibi é considerada uma arte, e quem diz isso não sou eu, mas o Museu de Arte Moderna dos EUA e até pela SP-ARTE no Brasil. Visto a importância da mídia e o reconhecimento geral para mim fica claro que o candidato à cadeira da ABL está mal informado.
Questionar a qualidade – e até o gosto alheio – seria aceitável do meu ponto de vista. Mas da maneira como Akel se manifestou só mostra o quanto ele não conhece a cultura popular e o seu poder transformador – principalmente para aquelas populações mais fragilizadas.
Na internet obra” do jornalista não pode ser encontrada de maneira fácil, mas um vídeo de Milton Neves divulgando uma ideia estapafúrdia se encontra facilmente. Por onde passou – aparentemente – não deixou rastros.
Uma visão obscura de uma mídia pode ser perigosa. Quando a ignorância vem de alguém que é candidato à uma cadeira na ABL é pior ainda. Sua ignorância acaba validando a ignorância de outros e, para confirmar isso, basta acessar qualquer tópico em qualquer rede social falando do assunto.
Não por acaso muitos adeptos da extrema-direita apoiam tal visão. Até ataques à Gilberto Gil e até Maurício de Sousa estão ocorrendo. O entendimento de leitura de Akel não sobreviveu à idade média. Hoje, porém, precisamos de boa arte.
Se gibi não é leitura, acredito que classificar marketing hoteleiro como tal uma mentira embrulhada em papel reutilizado de ovo de páscoa. Dito isto espero que na próxima eleição para cadeira na ABL este nobre farofeiro seja pelo menos indicado.
Pensamento do Dia
Mesmo pagando o preço da verdade em diversas prestações continuamos. Né?