A DC Comics não anda muito inspirada, mas é inegável que Yara Flor é a melhor personagem de Future State.
Estou lendo a saga Future State, o estado futuro da DC Comics, com um certo desgosto. São tantas boas oportunidades perdidas que fico irritado frequentemente com argumentos que se esforçam para ficarem na mediocridade. Talvez para não desagradar o hétero, branco de classe média que intoxica a humanidade, mas infelizmente falta ousadia à este estado futurista da editora… Porém, algo se sobressalta de maneira surpreendente, Yara Flor é a melhor personagem apresentada até o momento em de Future State.
Início de Fevereiro de 2021, li apenas duas edições de cada título, porém já é possível ver o que tem qualidade e é promissor. Como é pode-se imaginar a maioria dos títulos não vai chamar a atenção como deveria: seja pela arte, seja pela história. Gostaria mesmo de falar bem de diversos outros títulos mas não dá.
O final de Dark Nights – Death Metal foi previsível: uma briga entre gigantes resultou em um pseudo reboot no que o conselho editorial da DC Comics AT&T não gostava (não é mesmo DiDio?). Valorizando algumas propriedades mais que outras afim de alavancar as vendas de gibi – obviamente – mas sempre pensando no potencial televisivo e cinematográfico, afinal é aí onde está o dinheiro de verdade.
Desculpe, mas não dá para comentar da maneira correta sem dar alguns pequenos spoilers… São bem pequenos mesmo, desculpa!
Yara Flor é disparado a melhor personagem de Future State: ela é bonita, é engraçada, super poderosa e carrega uma carga cultural que o resto do mundo não está acostumada em ver – a do Brasil. Só de misturar as mitologias predominantes com as dos povos originários brasileiros já seria motivo para aplaudir de pé. Estamos falando de uma corporação gigante propagando a cultura de nosso país! Somos uma nação que tem sofrido a desindustrialização e com isso o poder de compra tem caído, logo não somos lá um grande mercado para se investir. Mesmo assim temos Yara para destoar do restante das notícias nacionais.
Caipora ajudando Yara a recupera a alma de Potira nos domínios de Hades – que diz não fazer favores para nenhuma “Esquecida” (???). Sim meus amigos, Joëlle Jones misturou a cultura brasileira e jogou para cima dos gringos com uma beleza surpreendente – tanto nos desenhos como no argumento. Gostaria de ver muito mais disso nos quadrinhos norte-americanos – mas é óbvio que isso é só um sonho.
Ah, ainda tem um cavalo alado chamado Jerry – que não podemos chama-lo de brasileiro (acho).
Bleeding Cool se surpreendeu com a mitologia brasileira ali embutida, afinal não é sempre que algo cultural de um país de terceiro mundo (atualmente famoso pelo negacionismo) ter sua cultura exaltada em um quadrinho mainstream de uma editora como a DC Comics. Se surpreendeu um site especializado imagine o impacto sobre o grande público.
Yara Flor se destaca em seu gibi solo, no título dela com Superman (Jon Kent) e na Liga da Justiça. Podemos dizer que apesar de ser uma personagem fictícia ela tem uma “aura” que chama a atenção para si. Acredito ser intencional colocar tanta responsabilidade e sensatez na personagem, afinal ela é a herdeira de Diana Prince.
Estou surpreso com tudo isso pois a personagem não foi feita exatamente para agradar este marmajo que gosta de escrever sobre gibis – foi feita para chamar atenção da geração preocupada com representatividade ativa. E mesmo assim consigo ver uma profundidade na personagem e um futuro brilhante para ela na DC Comics .
Mas e o resto de Future State?
Reconheço que ainda é cedo para tantas conclusões, mas posso tirar conclusões pelo que já foi mostrado. Não é tudo que é ruim como mencionei, mas é que nada é tão bom quando Future State Wonder Woman. Então compará-la com outros títulos pode ser injusto já que nada é – até o momento – tão impactante quanto Yara,
Future State Dark Detective praticamente transformou Bruce Wayne em alguém que luta literalmente contra o fascismo. Tiraram todo seu dinheiro e o colocaram para enfrentar uma polícia cibernética que está mais preocupada em proteger a propriedade privada do que as pessoas. Talvez seja a história que coloca Batman como o detetive que ele é em seu devido lugar. Talvez.
Future State Aquaman parece ser mais um título do herói… Só que com sua filha como Aquawoman, já que o Aquaman é uma referência clara à Jason Mamoa. Me pareceu óbvio, me pareceu cliché, mas chamou minha atenção – e foi exatamente essa fórmula que funcionou muito bem com o Aquaman nos Novos 52. Quem sabe o que o futuro trará?!
Future State Suicide Squad – ou Justice Squad – me pareceu a ideia mais divertida até o momento. Um Esquadrão Suicida que emula a Liga da Justiça com vilões (ou algo do tipo) com personificadores das lendas super heroicas. Porém a surpresa fica por conta de Superman, o cargo é ocupado por Conner Kent e achei a receita perfeita para muitas histórias interessantes… Mesmo que no final todos acabem mortos – afinal o nome da equipe não é Esquadrão Viva Para Sempre. No final ainda tem história da Liga da Justiça 1.000.000, coisa fina (hehe) com o The Rock como Adão Negro inclusive e a Besoura Dourada (amei demais).
Me reservei comentar apenas os lançamentos que realmente gostei em Future State pois o que se vê no geral são lançamentos óbvios ou muito pouco inspirados. Gostaria de ver mais Yara Flores pelo universo DC Comics mas não é o que acontece, infelizmente. Quem sabe no New Crisis State 52 on the Infinite Multiverses, não é mesmo?