Não termino os jogos que começo e isso não deveria ser um problema.
O primeiro jogo que lembro de sentir preguiça de matar o último chefe é Ganondorf de Zelda Ocarina of Time de Nintendo 64. Tentei duas vezes, acabaram as flechas de luz, não consegui e pouco tempo depois desisti, nem tentei mais. Eu não termino os jogos que começo, mas isso não é necessariamente um problema.
Metroid Prime, de GameCube, é outro exemplo. Esse tentei mais algumas vezes, mas não foram muitas. Acho que terminei, mas posso estar confundindo minha memória com algum vídeo que assisti. Mas a lista não é pequena, desde o ATARI até hoje em dia não chego ao final da maioria dos games que compro.
Na época do Super Nintendo, a época que eu realmente tinha tempo para jogar, a acessibilidade era limitada: não eram todos os jogos que tinham a possibilidade de salvar seu progresso. Sem mencionar que a bateria interna do cartucho poderia falhar e até para trocar você perderia todo seu progresso.
A vida adulta não ajudou, mas a qualidade de vida instaurada nos jogos: salvamento automático, vidas infinitas, plataformas diversas… Sim, hoje podemos jogar de maneira mais tranquila… Quer dizer, pelo menos deveria ser mais tranquilo.
Mecânicas de monetização atrasam propositalmente o progresso, para dar uma vida mais longa ao jogo alguns itens são quase impossíveis de se encontrar. É inegável que os jogos que amamos precisam ganhar dinheiro para sobreviver – ou até ganharem uma continuação.
Então o problema volta, com jogos longos, mesmo com salvamento automático, sem monetização escrota e sem mecânicas de itens ultra-raros continuo com problemas para terminar tudo que começo. E a história volta ao começo, o que tinha de sobra hoje é extremamente escasso: o tempo.
Sim, isso é um problema de quem trabalha, estuda, tem filhos, tem outras obrigações e, mesmo que goste de videogames, tem um tempo extremamente limitado para isso. E é disso que esse texto trata.
Partida rápida
A popularidade de alguns jogos rápidos não é à toa – e não inclui só aquele jogo que tem o Hanzo de 13 anos que não erra uma flecha. Basta você ligar o jogo e selecionar a opção de Partida Rápida e pronto, você já pode morrer para a Mercy que parou de curar seus aliados para te matar no tapa. Overwatch é sobre isso.
A organização de partida é fundamental em todos os jogos, cheguei a jogar World of Warcraft sem essa ferramenta… Só era possível fazer parte do conteúdo de dungeons se meus amigos estivessem online todos no mesmo horário e com os personagens de cada posição do grupo bem equipados. O druida do grupo sempre ficava invisível no lugar de curar a gente.
Raids? Sem organização de partidas para mim até hoje seria impossível.
A ideia de você poder sentar e já participar de uma atividade que irá durar alguns minutos no jogo – mesmo sem pausa – ajuda muito. Afinal fica mais fácil controlar o tempo quando você não precisa ficar três horas aprendendo uma mecânica com um líder de raid gritando por mais dano na sua orelha.
Sério, não tenho saúde para isso.
Sem mencionar que quando merdas acontecem (e elas vão acontecer) o stress é inevitável, outra vantagem da partida rápida – a falta de comprometimento – ajuda no aspecto que você não precisa ficar com o chat de voz aberto. Ou seja, você pode xingar – e ser xingado – sem grandes problemas… Confesso que não recomendo olhar o chat de texto também.
Jogos como Vampire Survivors tem me agradado demais pois basta eu sentar, conectar o controle no PC e jogar uma partida. E logo depois ir dormir pois chego morto em casa e só jogo para relaxar por cerca de 30 minutos… Antes de morrer.
Acessibilidade
Acessibilidade nos games tem sido uma questão levantada só recentemente já que até por legendas em português é preciso brigar… Mesmo imaginando que sem a barreira da linguagem mais jogos seriam vendidos. Não é mesmo Nintendo?
O que torna um jogo acessível varia de acordo com a sua necessidade. Opções gráficas como adição ou remoção de borrão no movimento, opções para daltônicos, legendas, dublagem e até para quem sofre de aracnofobia.
O jogo Grounded, por exemplo, tem tudo isso…
E, pensando bem, hoje em dia poder dar pause já é um luxo. Jogos online não permitem isso por motivos óbvios… Mas é óbvio que fazem falta: seja para ir ao banheiro ou tirar o gato de cima do teclado. É um absurdo pensarmos que uma função tão simples é hoje algo luxuoso.
Na verdade, isso tem nome: qualidade de vida. Seja espaço no inventário, seja a opção de salvar automaticamente e voltar do último ponto de checagem.
UNSIGHTED possui opções que facilitam a vida de quem tem alguma dificuldade na visão e permite a mudança do estilo da fonte, podendo desativar o estilo de arte pixel dela. Efeitos de pouca vida e até um relógio de speedrun podem ser ativados no menu do jogo.
Outros modos de jogo me pareceram interessantes também, mas ainda não tive tempo de testar… Mas confesso que é um game desafiador para minhas habilidades pouco avançadas… Porém, as desenvolvedoras pensaram nisso também: há o Modo Exploradora onde opções como mais Fôlego e até Invencibilidade podem ser ativados.
Até quem é ruim como eu poderá aproveitar o jogo!
Assim que você abre Loop Hero, você encontra diversas opções de volume para efeitos e música, mas também três tipos de opções de fontes. A escrita, por conta do visual pixelado, pode ser afetada, então além da original são apresentadas fontes de alta resolução e fontes para disléxicos.
Além disso, por ser um roguelite em “turnos” (mais ou menos), Loop Hero também permite controlar a velocidade de expedição e de batalha sem que a jogabilidade seja afetada – ou o jogador penalizado. Até opções de pausa automática e um modo speedrun o game tem!
Opções mais recentes incluem o chamado cross play e cross save que simplesmente permite que – em teoria – você começa a jogar em um lugar e pode terminar em qualquer outro. Imagine você jogando no celular, indo para o trabalho e poder continuar no PC do serviço na hora do almoço!
Jogos como Fortnite já tentam fazer isso. Destiny 2 só tenta, enquanto Warframe está prometendo para breve… Não por acaso, são todos jogos Free to Play e cheios de microtransações, são distribuídos em praticamente todas as plataformas: serviços de PC, console e smartphones. Quanto mais público mais dinheiro, quanto mais facilidade para jogar, mais pessoas vão gastar dinheiro para ter uma skin diferente.
Enquanto cito exemplos regulares (ou bons?) de monetização existem os péssimos exemplos que nem deveriam existir. Apesar de ter jogado os tempos áureos de Ragnarok Online, não podemos defender sua mecânica de grind (0,01% de chance de drop é sacanagem) e de monetização. E um aviso, Ragnarok Mobile é ainda mais predatório.
Videogame é para quem tem tempo de sobra?
Provavelmente não vou ter tempo de jogar Baldur’s Gate 3 – pelo menos não do jeito certo – no meu ritmo levaria anos para terminar o que promete ser um jogo gigantesco. Mesmo assim pretendo jogar e, confesso, até já criei um esboço do meu personagem em uma calculadora. Não, ainda nem comprei o game.
Vou começar a jogar algo como Fortnite para ser destruído por crianças de 13 anos? Bem, talvez você tenha tempo para isso, no meu caso não tenho paciência mesmo.
Estou apaixonado por Dave the Diver, com partidas que podem ser curtas ou longas, você decide – e com salvamento automático do bom… Sem mencionar que você pode pausar em qualquer momento. Hades, que é um dos meus jogos favoritos de todos os tempos, é um roguelite onde você terá que repetir partidas diversas vezes – e isso faz parte do jogo.
Warframe é um jogo que jogo há anos, sou viciado e me orgulho em dizer que até o momento da publicação deste artigo nunca gastei dinheiro real nele. Considero suas mecânicas de monetização menos abusivas mas há muito grind. Muito… O que me faz entender quem gasta muito dinheiro com ele… E me faz ter uma evolução extremamente lenta.
Path of Exile, outro Free to Play, tenho insistido para jogar… Mas suas mecânica de personagem exclusivo por temporada é algo complicado… Assim como todos os Diablo… E, para piorar, tem as habilidades e árvore de habilidades passivas que… Bem, não é uma árvore, mas sim uma floresta que você com certeza irá se perder logo de cara.
Um detalhe importante: jogos como Warframe, Diablo e Path of Exile tem um endgame, mas a progressão não para. Sim, o jogo é infinito, bicho.
Obviamente, cada um tem seu tempo livre, às vezes pode ser no ônibus voltando para casa. Free Fire ou um emulador podem fazer companhia no celular (ou em um Steam Deck ohmaigod), você se divertir no pouco tempo que tem é o que importa.
Por que não termino os jogos que começo…
Acho que os motivos podem ser vários e varia para cada um. Particularmente sou chato e me canso facilmente de algumas mecânicas. The Wandering Village ainda estou insistindo para jogar, mas talvez eu largue antes do que deveria. The Tenants estou dando uma segunda chance mas logo no início do jogo ele fica repetitivo e não sei se vou conseguir seguir nesse ritmo.
Nem para escrever uma análise, dar sua opinião sobre o jogo, é preciso terminar. Algumas coisas simplesmente não entram no seu gosto, assim como há coisas que não apetecem seu paladar. E não sou apenas eu que digo isso, James Stephanie Sterling (The Jimquisition), concordar comigo que às vezes terminar um jogo que é uma merda pode ser uma bosta. Fucking shiiiiiiiiiiit!!
Dito isto, aviso que estou com medo da dificuldade de UNSIGHTED, me enrolei com a jogabilidade de Transistor e queria fazer runs melhores em Hades. Infelizmente o tempo não permite que eu faça tudo… É pedir demais alguém me pagar um bom salário para que eu jogue os games que gosto o dia todo?