AVISO: TODAS AS OPINIÕES DO TEXTO A SEGUIR SÃO BASEADAS NA MINHA RECENTE EXPERIÊNCIA NA CAUSA ANIMAL. ELAS SÃO EXCLUSIVAMENTE FRUTO DAS MINHAS OBSERVAÇÕES E DAS SITUAÇÕES QUE VIVI DESDE QUE COMEÇEI A ATUAR NA CAUSA.
Desde o caso do Coragem, o pitbull que tentaram matar na minha rua, fui jogado na causa animal de uma forma inesperada. Para que você, leitor, compreenda isso, preciso compartilhar algumas das minhas opiniões e experiências que antecederam esse evento e, claro, a tragédia climática no Rio Grande do Sul.
Vou adiantar um spoiler para você: as crises de ansiedade, pânico e síndrome do impostor mais longas e frequentes que já tive continuam a ocorrer.
Sou apaixonado por animais, não só por pets convencionais, mas pelos não convencionais também. Apesar de quase ter sido dilacerado por um pastor alemão e ter cicatrizes do ocorrido, de ter o braço rasgado por um vira-lata preto, o antebraço aberto por um gato, o tornozelo mastigado por um pitbull e os dedos do pé abertos diversas vezes por outras raças, sempre, na primeira oportunidade, estava abraçando e beijando os animais, e eles sempre cediam ao amor que eu sentia.
Ver um animal de rua ainda me faz chorar. A vontade de pegá-lo, levar para casa, dar amor e dignidade é algo que ecoa dentro de mim a cada um que encontro em qualquer parte do país. E choro ainda mais quando os vejo buscando refúgio da chuva, ventania, frio ou calor. Isso destrói meu coração. Não importa o que digam, ou o que você ache, leitor, eu sou uma pessoa extremamente sensível. Por mais difícil que seja para você compreender, peço que não me julgue; eu sou assim.
Quando o Coragem apareceu na minha vida, não sei de onde tirei forças para vê-lo naquela situação todos os dias até sua partida. Tornei-me uma pessoa que não chorava, que criou um distanciamento. As poucas vezes que chorei, três, foram ao ouvi-lo acordado e no dia em que ele partiu. Ali, percebi que não tinha condições emocionais para realizar resgates, estar na linha de frente. E ainda não tenho. Admiro quem o faz, principalmente aqueles que fazem com amor, por amor e para dar amor.
Em uma semana, conheci protetores incríveis que compartilhavam desse pensamento, mas também conheci o oposto, oportunistas de ocasião que se aproveitavam da situação como plataforma de autopromoção. Era nítido; eu conseguia ver claramente a diferença entre essas pessoas. E então veio a tragédia no Rio Grande do Sul.
Corri para procurar informações sobre os protetores que estavam resgatando animais em meio às enchentes que assolaram o sul do país em maio de 2024. Meu objetivo era usar todo o engajamento que o Coragem trouxe para minhas redes sociais para pedir doações para os protetores que não eram famosos, que não tinham milhões de seguidores. Queria dar visibilidade a quem estava nas águas, tirando do bolso para pagar barqueiros e gasolina para salvar o máximo de vidas possíveis. E fiz isso, mas caí em armadilhas. Senti-me enganado, usado, depreciado e deixado de lado quando alcançaram “melhores condições de conseguir ajuda”.
Friso “alguns” porque não foram todos, pelo contrário. Dou um exemplo de uma ONG que recebeu a visita de pessoas importantes, mas ainda assim, vinha conversar comigo, me atualizava sobre a situação e continuava pedindo para não deixá-los sozinhos, para continuar ajudando. Há quem espere minha visita, quem me manda mensagens para atualizar as informações, para saber como está o meu dia. Conheci pessoas maravilhosas em meio a tamanha destruição material e emocional.
E teve quem se aproveitou da situação para sucesso pessoal. Só consigo descrever assim. Usaram um trauma para benefício próprio, causaram mais traumas a tutores fragilizados por perderem tudo, se apresentaram como salvadores quando, na verdade, estavam de olho nos seguidores, na mídia gerada, nos ganhos políticos e/ou financeiros futuros.
Muitas pessoas arrogantes, cheias de si, que se acham melhores do que as outras. Muita carteirada, mesmo quando a dificuldade estava claramente exposta. Mas não terceirizo 100% dessas atitudes, porque sei, e confesso a vocês, que fiz julgamentos equivocados. Entendi declarações e frases de maneira distorcida e passei para frente esse descontentamento turvo. Nada justifica, mas atire a primeira pedra quem nunca tirou algo de contexto sob pressão. Então, não sejamos hipócritas; todo mundo tem a bunda suja.
A causa animal é uma mina de ouro, quase um manto de pureza, um batismo público de expiação de pecados para quem a abraça. É uma fonte de engajamento e dinheiro. Mas você sabe o que diferencia aqueles que fazem pelos animais de quem faz apenas por eles? Mais ação e menos publicação. Mais envolvimento e menos exposição. Mais animal e menos selfies. Mais solução e menos autopromoção.
Eu disse que sou uma pessoa sensível, e, sinceramente, pouco me importa o que você acha dessa sensibilidade. É assustador ver claramente as pessoas se aproveitando de uma tragédia, seja no Sul ou com o Coragem, e ver apoio incondicional sem pensar no futuro desses animais. É ver que o cuidado e o resgate acontecem para autopromoção e, depois, o animal que se vire. É ver que, na era dos cliques, estes são mais importantes do que a própria vida salva e sua perpetuação com qualidade e dignidade.
Estou exagerando? Faça uma leve busca nas redes sociais e veja quem continua pedindo ajuda para protetores do Sul, ou que ainda pede doações, lares temporários, adoções no resto do país. Veja quem mudou a sua pauta. Veja quem está colhendo frutos.
É preciso estar com a terapia em dia e o emocional bastante forte para lidar com a causa e as pessoas da causa animal, porque você terá muito mais decepções do que alegrias, mais irritações do que celebrações. A proporcionalidade trabalho e quebração de cara é maior do que a de trabalho e final feliz para o pet. E, de quebra, você fica com a paranoia de que fez mais merda do que bem. Mas isso é um problema meu, não é? Sempre é.
Uma dica para você, leitor, que pensa em ajudar de alguma forma a causa animal: mantenha sua terapia em dia e um estoque de soro antiofídico por perto, porque, para cuidar dos animais, você vai precisar lidar com um ninho de cobras prontas para te atacar.
Volto a qualquer momento com um texto que ninguém vai ler.