Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é tudo isso e mais um pouco – O Exagero do Raimi veio na medida certa e sem spoilers!
Vocês já ouviram falar ou já deram uma lida por aí sobre o estilo estético-visual chamado “camp”? Camp é um tipo de representação exagerada, colorida e ligeiramente brega. É um estilo versátil de representação visual muito presente em quadros, teatro, produções gráficas e em filmes como Pink Flamingos, a série antiga do Batman (aquela cheia de POW e PEW PEW PEW) e também é o estilo visual que compõe os filmes Spider Man 1, 2 e 3 dos anos 2000. Você talvez esteja se perguntando o óbvio: o que diabos isso tem a ver com o novo Doutor Estranho no Multiverso da Loucura?
Vamos do começo também óbvio: bem como Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, os Spider man 1, 2 e 3 dos anos 2000 são dirigidos pelo excelente Sam Raimi. O diretor é conhecido por filmes de terror exagerados como a franquia A Morte do Diabo. Se tem uma coisa que casa perfeitamente bem com a estética camp é filme de terror. Os Spiders Man de Raimi são coloridos, com takes inusitados e com muito uso de close de câmera exacerbados. Raimi ama o camp e, se nós amamos os Spiders dele, bem, acho que também amamos o camp de tabela.
Em Doutor Estranho não temos o camp clássico, afinal estamos falando de uma mídia de massa, são filmes com produções caríssimas que por objetivo devem cair no gosto do público. Infelizmente não daria para trazer algo nível Pink Flamingos pra tela do cinema mas Raimi deu seu jeito; algo que chamo de Soft Camp – o exagero na medida certa. Pois bem, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é exagero na medida perfeita para a Marvel. Raimi reinventou a receita do MCU dando o seu toque peculiar de direção e garanto, o resultado é primoroso.
Durante as 2h de filme parece que o diretor fez da película um grande laboratório onde ele tenta exagerar sempre mais mantendo a palatabilidade que o filme precisa ter para alcançar o sucesso de bilheteria. Nele, Raimi coloca de tudo: tem muita cor, tem close, tem suspense clichê mas executado no fio na navalha e tem uma obra sensacional que casa com a proposta do personagem e do universo dele. Tem filmes da Marvel onde nos sentimos lendo uma HQ, acho que Guerra Infinita é um bom exemplo disso.
Em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura Raimi levantou o sarrafo e essa sensação ficou ainda mais forte. A saga do Dr Strange é toda cheia de ‘ocultismos marvelianos’, ela tem um universo muito próprio e rico em mitologia e locais. Raimi nos transporta quase que literalmente (me abstenho de spoilers aqui) por diversos mundos fantásticos e estranhos do Dr. Estranho, num roteiro redondinho onde todo mundo brilha. O quarteto Wanda, Strange, Wong e América Chavez joga com desenvoltura.
Em determinado momento Raimi quaaaase te faz esquecer que é Marvel pois o exagero estético permeia sutilmente o terror, o gore e um carnaval sádico dignos de nota. O único ponto baixo do filme é que, dada as produções recentes da Marvel, sobretudo What If, espectadores menos convictos da saga do MCU podem ter uma leve decepção na narrativa que fica bem pouco mas ainda previsível pra quem assistiu as séries e os filmes recentes.
Acho que não tinha como escapar muito disso pois afinal estamos falando de uma constante produção midiática onde as histórias e variáveis delas foram muito exploradas nos quadrinhos há décadas. Isso no entanto não vai derrubar nem um pouco a satisfação ao final da sessão – falando pessoalmente, creio que o filme é o mais bem executado de todo o MCU e talvez um dos que irão envelhecer cada vez melhor.
Quero muito mais Raimi e muito mais direção autoral no MCU daqui pra frente.
Nota: 9 Farofas