Dia do Quadrinho Nacional… todo ano vejo tal data e me coloco a pensar no que rolou de bom nos gibis brasileiros dentro do ano. Ainda é algo menosprezado pela sociedade e o governo, como qualquer atividade cultural é menosprezada no Brasil. Falta incentivo de todos os lados, sem falar que roteiristas e artistas são frequentemente hostilizados e não conseguem viver disso em nosso país. Você não consegue sustentar uma família fazendo gibis.
Se o artista ou roteirista trabalha para a Marvel ou DC é outra história, mas o profissional que tenta trabalhar no que gosta por aqui… esse sofre… Quando era adolescente eu desenhava muito mais e até melhor do que desenho hoje, ao entrar na faculdade, que não tinha nada em haver com os quadrinhos, decidi que iria começar a escrever.
Era tudo parte de um plano maior para tentar me lançar no mercado, mas a esta altura só pensava mesmo em não levar prejuízo. Adivinha só, nunca lancei meu gibi… já desenvolvi diversas histórias, criei personagens, é claro que meu gosto e minha narrativa mudou no decorrer dos anos, mas independente da ideia ser ruim ou boa ela nunca tomou a forma de um gibi.
O Farofeiros mesmo era para receber alguns desses projetos mas nunca cheguei perto de algo que eu sentisse vontade real de publicar. De super heróis à histórias infantis, todas ocupam gavetas.
São protegidos por plásticos dentro de pastas pretas cheias de referências e alguns manuscritos, algumas histórias ocupam uma temida pasta no PC com o nome de “Projetos”, quem sabe um dia?
É claro que existem fanzineiros e o projeto da Maurício de Souza Produções que é realmente louvável… admito que não me atraiu muito, mas isso é meu gosto pessoal, não quer dizer que é ruim. Nossos artistas internacionais dão orgulho constante, sou fanático por Mike Deodato, Fábio Moon, Gabriel Bá, Ivan Reis entre tantos outros.
Veja essa lista, olha a quantidade de talentos… como nossos gibis não vendem? Como não temos incentivo com a criatividade desses brazucas? Fico feliz por eles serem valorizados lá fora, mas poxa… eles podiam ser mais valorizados por aqui.
Sei que o país está em crise, sei que o governo não ajuda, sei que a maioria dos empresários atrapalha mas Marvel e DC ainda são vendidas pela Panini e a qualidade da maioria desses títulos é extremamente duvidosa e vendem mesmo assim. A Abril tentou fazer um gibi nacional para o grande público, comprei , não gostei mas admirei a iniciativa.
Achei a história confusa, o visual era interessante… sem falar que ver o Palácio do Planalto em chamas me chamou muito a atenção. O argumento era de Sérgio Figueiredo mas (estranhamente) o roteiro era creditado à dois gringos que nunca tinha ouvido falar, os desenhos de Carlos Mota e a arte final de René Micheletti foram competentes.
Capas de Mike Deodato para ficar caprichado na propaganda da TV. Não tenho dados mas a venda foi pífia, pode-se comprar os gibis de 1998 por R$ 10,00 cada uma das quatro edições facilmente pela internet.
Hoje com tanto merchandising americano é óbvio que seria difícil introduzir uma nova série e investir na sua devida propaganda para enfrentar, por exemplo, o Batman.
É triste termos que nos espelhar em personagens como o Mancha Solar e a Garota Tubarão da Marvel ou a Fogo da DC como representantes brasileiros nos quadrinhos. Quem sabe ano que vem consigo falar de algum personagem nacional que me atraiu?
2 respostas em “Dia do Quadrinho Nacional: o que comemorar?”
Nosso problema mais sério: não temos uma identidade.
Fomos bombardeados desde sempre pelos quadrinhos americanos e associamos qualidade com o que é produzido lá, contribuindo com o detrimento do que é produzido aqui.
A maioria das tentativas brasileiras de produzir alguma coisa cai no campo da cópia do estilo norte-americano de super-heróis, e geralmente aparece como produto inferior aos nossos olhos, vide esses quadrinhos aí (nunca tinha ouvido falar dessas edições, tão pouco do selo “Abril Comics”). Quando não é isso, as produções recaem no campo do maldito, do bizarro, do punk regional ou do erótico bizarro. Coisas geralmente de qualidade sofrível, voltada pra um nicho que sequer prestigia o que é produzido e totalmente distante de quem realmente consome quadrinhos.
Lembro que tivemos algumas coisas de sucesso entre os.jovens dos anos 90, na onda dos mangás (mais uma vez, nosso problema de identidade própria), como Combo Rangers ou Holy Avengers, hoje no esquecimento histórico e na memória dos saudosos.
Mas claro que temos ótimas produções autorais surgindo na última década, mas essas, a despeito da qualidade, são ignoradas pela camada de leitores pedantes que tentam atingir, mas que seguem as produções européias e torcem o nariz pro produto nacional.
O governo não incentiva a cultura que os quadrinhos podem proporcionar, o resto da população, aculturada de uma forma geral, mal lê o que é letra e considera o que é imagem como bobagem pra crianças.
Desculpe o tom pessimista, mas é pessimista a realidade.
Temos nossas assombrações e monstros, mas acolhemos e prestigiamos o Halloween. Temos quadrinhos, mas vamos à Comic Con ovacionar o gringo. É um problema de um povo que ao se apresentar, fala o sobrenome estrangeiro com ênfase e faz questão de citar os povos europeus do qual descende.
É verdade Velta, disse tudo!