No livro “Raízes do Brasil” (1936), Sérgio Buarque de Holanda apresenta o conceito de “Homem Cordial”, que corresponde a uma característica marcante da sociedade brasileira: a tendência a estabelecer relações pessoais intensas, baseadas em emoções e vínculos afetivos, em detrimento das normas e regras sociais.
Na sociedade contemporânea, essa tendência pode se manifestar de forma preocupante, como se observa nos diversos episódios de ameaças e ataques a escolas que ocorreram no Brasil recentemente.
Em vez de buscar soluções pacíficas e dialogadas para os conflitos, indivíduos desequilibrados agiram de forma violenta, levando medo e terror a diversos locais de ensino.
Uma das explicações para esses ataques está justamente na ideia de Homem Cordial. Ao ver-se confrontado com normas e valores que contrariam seus interesses, o indivíduo cordial pode reagir de forma emocional e agressiva, sem levar em conta o bem coletivo ou as consequências de seus atos.
Além disso, a cultura da violência que permeia a sociedade brasileira também é influenciada pelo Homem Cordial. A ideia de que a amizade e as relações pessoais estão acima das normas e das leis pode levar à naturalização da violência como uma forma de resolver conflitos e impor sua vontade sobre os outros.
Essa cultura tem sido perpetuada ao longo dos anos, especialmente em razão da impunidade e da falta de uma educação cívica efetiva. Ao não identificar a gravidade dos crimes cometidos, as autoridades e a sociedade como um todo acabam por incentivar a continuidade da violência como uma forma de resolução de conflitos.
As escolas como alvo dos ataques são simbólicas nessa lógica, pois representam uma estrutura que busca promover valores e normas sociais, muitas vezes em detrimento do individualismo. Ao atacar essas instituições, indivíduos emocionalmente perturbados podem estar tentando afirmar sua autoridade e impor sua vontade sobre os outros.
Para combater essa cultura do Homem Cordial e da violência que se perpetua em nossa sociedade, é preciso investir na educação cívica e no fortalecimento da democracia. É preciso entender que o bem coletivo e o respeito às normas sociais são fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Só assim poderemos transformar a cultura da violência e evitar que os ataques às escolas sejam vistos como algo natural e aceitável. É preciso dizer não à violência e fortalecer os valores que sustentam a convivência pacífica e respeitosa entre os indivíduos e entre as instituições.