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BEETLEJUICE BEETLEJUICE, Tim Burton ainda se diverte

Do primeiro Beetlejuice (Os Fantasmas Se Divertem) de 1988 até finalmente chegarmos nesta continuação dirigida por Tim Burton se passaram 36 anos. Em “Os Fantasmas Ainda Se Divertem” (Beetlejuice Beetlejuice) temos novamente de volta ao elenco Winona Ryder e Catherine O’Hara, respectivamente em seus papéis como Lydia Deetz e sua madrasta Delia Deetz, além de claro, Michael Keaton como o fantasma autoproclamado “bio-exorcista”, Beetlejuice ou Besouro Suco na tradução em português. A solução encontrada para colocar o personagem Charles Deetz de volta na trama é muito criativa e bem ao estilo Tim Burton de ser, desde o uso da técnica de stop motion a uma caracterização que não mostra a cara do personagem.

O ator Jeffrey Jones não foi chamado obviamente por ter sido preso em 2003 por crimes sexuais, o que praticamente acabou com sua carreira. Para chegarmos até a estreia desta segunda parte seguiu-se uma verdadeira saga que incluiu vários roteiros deixados de lado, inclusive um que se passaria no Havaí. Ah, antes que me esqueça, deixarei alguns spoilers para o final, mas serão bem sinalizados.

Para aproveitar Beetlejuice Beetlejuice não é necessário ter assistido ao primeiro, apesar que isso ajudaria a entender melhor certas auto-referências que o filme faz. Eu mesmo reassisti ao filme de 1988, mas de maneira alguma isso é essencial, pois o roteiro consegue manter o conjunto funcionando por si só. Mas antes de mais nada temos que entender que tipo de filme é esse. Vale lembrar que o objetivo principal de Beetlejuice sempre foi ser uma diversão leve, uma grande fantasia de comédia, abusando da linguagem dos desenhos animados.

O filme passa a sensação de uma festa de Halloween com crianças colocando máscaras de borracha e pedindo por doces, é o macabro se misturando com o lúdico, tudo envolto em uma aura de reverência aos filmes de terror. Há citações ao diretor italiano de terror Mario Bava, que entre outros é responsável pelos clássicos La maschera del demonio (A Máscara da Morte) e I tre volti della paura (As Três Máscaras do Terror ou em inglês Black Sabbath). Não é um filme para concorrer ao Oscar em categorias principais, é essencialmente algo para se divertir, como os fantasmas no título em português. Tim Burton não é um diretor que vai ficar trabalhando demais em detalhes no roteiro ou refilmar exaustivamente um take até encontrar a perfeição, sua meta é conseguir mostrar ao mundo um pouco do universo de seres que habitam sua mente, filmando de maneira rápida e se utilizando de muita improvisação neste processo.

Michael Keaton comentou numa conversa com parte do elenco: “Não havia uma discussão do tipo: ‘Olha, no primeiro ato acontece isto, então este é o arco do seu personagem.’ Não. Era tipo: ‘Ah, acho que isto seria engraçado, isso seria mesmo legal!’ E é assim que as coisas são criadas. As pessoas se conectam emocionalmente a isso (o filme) que é feito de maneira artesanal, elas apenas amam e não ficam conscientemente pensando muito sobre o porque amam”.

Justin Theroux disse que apesar da grande produção Os Fantasmas Ainda Se Divertem parece um filme independente por causa da sintonia entre os atores e o diretor, proporcionando um ambiente de trabalho onde todos se divertiram. Willem Dafoe observou: “Há um nível de imperfeição e personalidade quando algo é feito artesanalmente. Quando se escreve uma carta de amor a mão livre a caneta deixará borrões e sua caligrafia pode não ser tão boa, ao contrário de digitar no computador, mas há mais satisfação neste tipo de abordagem do que numa produção mais industrial”.

O fantasma Beetlejuice fazendo careta - Os Fantasmas Ainda se Divertem - www.farofeiros.com.br

Não espere desta sequência uma estória com um roteiro cheio de reviravoltas e super detalhado, nem o primeiro nem este se preocupam com isto, o foco de Tim é outro. A premissa é: Após um trágico evento, as 3 gerações da família Deetz se reúnem e o fio condutor é a relação mãe e filha com seus conflitos que se seguem até que, por uma série de acontecimentos, as Deetz ficam sem outra opção senão invocar novamente aquele fantasma que assombra a maquete no sótão.

Enquanto isso, Beetlejuice está às voltas de seus próprios problemas no pós-vida, já que alguém do seu passado retorna em busca de vingança. Beetlejuice continua sendo aquele repugnante e carismático fantasma que conhecemos no primeiro filme, ao contrário de Lydia e Adelia que mudaram com os anos, ele permanece aquela entidade que se mantém além do tempo e espaço.

Este novo filme consegue captar a atmosfera do primeiro de 1988, é Tim Burton retornando em sua melhor forma, após algumas produções que não foram muito bem aceitas tanto pela crítica quanto pelo público, sendo a última a versão live action de Dumbo. Este é seu reencontro com o que mais gosta de fazer no cinema (notadamente, ele já tinha voltado às boas graças do público com a bem-sucedida série da Netflix “Wednesday” a qual Jenna Ortega protagoniza e ele é produtor e dirige alguns episódios, pode-se dizer que foi a série que deu novo ânimo a Burton que cogitava até mesmo se aposentar como diretor de longas após a experiência ruim com Dumbo.

O fantasma Beetlejuice fazendo cara de despreso - Os Fantasmas Ainda se Divertem - www.farofeiros.com.br

Tim Burton gosta de se cercar por uma equipe de pessoas as quais tem plena confiança. Em um bate papo entre Jenna Ortega e Michael Keaton, eles comentaram como é trabalhar com o diretor: Ele não faz “shot lists” nem detalha demais como os atores devem atuar, deixando-os livres para que criem a partir do roteiro, mas sempre aponta o que deve ser mudado quando necessário. Keaton disse que seria muito difícil replicar o roteiro do primeiro Beetlejuice, pois foi uma criação que foi ganhando corpo conforme as filmagens iam acontecendo.

Tim é um diretor extremamente visual e sempre que precisa explicar para os atores como deve ser o personagem mostra a eles os desenhos que rascunha e os sets onde as filmagens serão realizadas. O uso do CGI ao lado dos efeitos práticos foi muito bem equilibrado, Jenna declarou que se divertiu muito gravando as cenas em que ela e Winona fogem do Verme da Areia. A trilha sonora de seu eterno parceiro de Tim, Danny Elfman, como de costume casa perfeitamente com a estética do diretor.

A polêmica sobre a dublagem

Em junho a Warner soltou um teaser no qual é creditado a Garcia Júnior a dublagem do personagem principal. Mais tarde foi divulgado que Eduardo Sterblitch faria a dublagem do fantasma. Sterblitch interpreta Beetlejuice também na adaptação brasileira do musical baseado no filme, muitos fãs criticaram duramente a escolha principalmente por terem visto trechos da peça, no qual o tom de voz do ator está bem diferente das dublagens brasileiras de Michael Keaton.

Sterblitch chegou a falar sobre a polêmica dizendo que entendia o respeito que os fãs tinham com os dubladores de carreira, mas que se empenhou ao máximo para entregar o melhor trabalho.

Antes de ver Beetlejuice Beetlejuice assisti ao primeiro filme também, ambos nas versões dubladas. Particularmente prefiro ver as versões originais, mas as sessões legendadas são cada vez mais raras e como havia esta polêmica com a dublagem achei que seria uma boa conferir para dar uma opinião.

Para mim a dublagem de Eduardo Sterblitch não deixa nada a desejar, ele é um ator talentoso e que já havia feito alguns trabalhos como dublador anos atrás, apesar de nunca ter levado a carreira neste nicho adiante. A voz que ele faz para Beetlejuice no musical é diferente do filme, são atuações diferentes e sua dublagem não decepciona, muito pelo contrário.

Divirta-se também

Beetlejuice Beetlejuice, não é um filme para ser levado à sério. Ou melhor, não é um filme para se ver com um olhar sisudo. As caracterizações farsescas dão aquele tom de cartoon, de festa de Halloween onde as crianças brincam de serem monstros. É um filme onde o protagonista é um fantasma de 600 anos que aparece numa maquete, por aí qualquer análise mais pretensiosa se perde.

O design de Beetlejuice Beetlejuice é totalmente farsesco, caricatural, desde os cenários à maquiagem de cérebro à mostra do personagem de Willem Dafoe que nem de longe está preocupada em criar algo realista, é praticamente uma fantasia do Dia das Bruxas e é neste espírito que o filme orbita, uma brincadeira levada à sério.

Assistir a Os Fantasmas Ainda Se Divertem é aceitar participar deste mundo, se deixar levar pela “experiência Tim Burton”, que é essencialmente embarcar em seu carrossel de estranhezas visuais que unem o macabro com o clima de sessão da tarde, a morte aqui não é vista como um tabu e sim como algo até positivo e engraçado.

O que importa aqui é a satisfação de ver Tim Burton, como fazem seus fantasmas, desenhando uma porta com giz na parede e abrindo para nós a entrada ao seu universo, um convite a participar de sua festa de Halloween e juntos com ele e toda a sua trupe apenas nos divertir.

Curiosidades de BEETLEJUICE BEETLEJUICE

  • Winona Ryder e Jenna Ortega se tornaram bffs durante as filmagens.
  • Jenna já havia feito um teste para o live action de Dumbo, dirigido por Tim Burton (o diretor não sabia disso quando filmaram).
  • No primeiro filme, durante a cena de casamento, Beetlejuice tira um anel de um dedo decepado que diz ser da ex-esposa, o que faz uma ligação com Delores nesta sequência.
  • O contrato de Winona em Stranger Things tinha como cláusula que ela teria tempo para se dedicar às filmagens da sequência de Beetlejuice se um dia acontecessem.
  • Os cabelos espetados de Beetlejuice no primeiro filme foram ideia de Michael Keaton.
  • Curiosidade para fãs de grunge: a certa altura a personagem Astrid (Jenna Ortega) está olhando alguns LPs dos anos 90 e um deles parece ser o Dirt do Alice in Chains.

Quer spoilers?
(Nem são spoilers tão grandes)

Absolute spoilers - Absolute Cinema meme - Wolverine - Blog FAROFEIROS

Em flashback descobrimos que Delores (Monica Bellucci) e Beetlejuice haviam se casado a 600 anos atrás na Itália em cenas em preto e banco faladas em italiano, remetendo a filmes de Mario Bava (diretor de clássicos do terror).

Como as coisas não deram muito certo ela busca vingança nos tempos atuais e a forma como ela “ressuscita” é uma das cenas que pode servir como resumo do estilo Tim Burton: influências do terror, da comédia, do estranho e bizarro num amálgama que funciona muito bem.

O desfecho dela pode parecer um tanto decepcionante, pois se cria uma expectativa lá no começo do filme de que haveria um embate mais intenso dela com Beetlejuice. Mas talvez o que mais tenha me incomodado é que por ser um personagem realmente muito interessante eu gostaria de ver mais dela em tela contracenando com Besouro Suco.

A cena de Delores na primeira parte do filme pisando no porta-retrato com a foto de Lydia que estava na mesa de Beetlejuice dá a entender que haveria muito mais conflitos para acontecer, o que nunca ocorre. O personagem Jeremy (Arthur Conti) tem um fim abrupto, mas neste caso para mim fluiu melhor, pois o anticlímax na cena com ele ficou engraçado e passou a ideia que em termos de trapaça Beetlejuice sempre estará à frente de todos.

Por Highlander Firak

Palpiteiro aleatório, editor de cortes do canal Farofeiros, não falo com estranhos, só com os muito estranhos. Diariamente se questionando que Xou da Xuxa é esse.

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