Ataque dos Cães ou como um filme chato pode merecer o Oscar e ser muito bom ao mesmo tempo.
Pra um desavisado, Ataque dos Cães, de Jane Campion, pode parecer um filme de faroeste com Bang Bang, tiros e ressentimento; como todo bom faroeste. Pra outro desavisado, seria um dramalhão pique 1900’s com o que estamos acostumados a ver no cinema dessa geração quanto à essa época histórica. O lance é: Ataque aos Cães é o close tedioso na cortina ao vento do Além da Linha Vermelha misturado à incrível beleza e, sutileza de The Piano – da mesma diretora – um dos filmes mais lindos de todos os tempos, diga-se de passagem.
Benedict Timothy Carlton Cumberbatch, nosso inexorável Doutor Estranho, está INCRIVEL no papel do homem macho dos anos 1920, o ápice orgástico de qualquer incel contemporâneo mas sem esse peso moral de agora. Sob o olhar sensível e doce de Jane, Cumberbatch se torna o másculo ressentido com a modernidade, diante do próprio conflito por ser um homem gay – uma autodeterminação ainda pouco entendida na época.
Preso em longos diálogos frios e ao mesmo tempo quentes pela dor de ter que se esconder numa sociedade pouco aceitável. E ele brilha! Minha nossa! cada olhar lacrimejado é um regozijo de reparação social a contra pelo e revisionista de uma situação real e possível num momento histórico real e, por ocasião, impossível.
O filme em si é um saco. Longo. Você espera aquele tiroteio sem vergonha e escalado, mas, no fim vc recebe um dos melhores e mais sutis plot twists que desde Apocalipse Now não era tão visto em evidência. Ataque dos Cães nasceu e morrerá como um clássico a ser visto, surpreendido e esquecido. Merece uma estatueta por isso, não por menos e nem por mais.
É a chatice da arte e é a arte pura.
Nota geral: 7,5/10 farofas