Apostas e videogames não deveriam andar juntas, mas andam.
As apostas online são um fenômeno na internet atualmente. Empresas têm ganhado muito dinheiro e, obviamente, investem em muita propaganda para angariar mais apostadores. Estão em todos os lugares: esportes, TV, streamings e até no seu joguinho favorito. Mas acredito que apostas e videogames não deveriam andar juntos.
Por isso um aviso logo de início: sou contra todo e qualquer tipo de jogo de azar. E que fique claro que algo beneficente, ou um bingo no quintal não são o problema. A questão toda gira em torno de que as apostas lidam com sentimentos que o ser humano não controla direito, e aí inventaram de colocar dinheiro no meio.
Quantas histórias já ouvimos de pessoas que perderam tudo para, por exemplo, bingos legalizados? Segundo dados da Organização Mundial de Saúde em 2016 a perda global anual dos apostadores foi estimada em US$ 400 bilhões. A OMS lida com isso por se tratar de um vício, não é só uma aposta recreacional, há dependência.
Além de questões financeiras o vício em apostas é apontado também como causador de problemas de saúde mental, cognição e relacionamento. O vício em jogos de azar apresenta sinais menos óbvios, de difícil percepção no dia a dia. Pessoas próximas dificilmente conseguem perceber o problema antes que se torne algo mais grave.
O prazer gerado pela a aposta – e sua ocasional vitória – não são mitos, são explicados cientificamente. A BBC possui uma matéria extremamente interessante e atual, mostrando como até a pandemia de COVID-19 levou mais pessoas para esses jogos.
Mas tudo pode piorar…
Um cassino como nenhum outro
Jogos competitivos, eletrônicos ou não, também foram pegos por um fenômeno de apostas online. Em sites “especializados” são disponibilizados apostas esportivas, pôquer, cassino, games, bingo entre diversas outras opções.
Em 2018 a lei 13.756, homologada por Michel Temer, legalizou as apostas esportivas no país. Apesar de ser legal não existe regulamentação, com isso é comum que os grandes sites de apostas sejam hospedados nos mais diversos países – inclusive em paraísos fiscais.
E, graças a essa lei mal feita, apostas online são classificadas de maneira diferente de jogos de azar – este último proibido e passível de prisão. O artigo 50 da Lei de Contravenções Penais estabelece que fazer apostas é uma contravenção penal, punível com prisão simples de 15 dias a 3 meses, ou multa.
Com essa confusão instaurada hoje temos diversos escândalos – para a surpresa de ZERO pessoas – de manipulação de resultados. O que acontece é o seguinte: jogadores de futebol tem causado a própria expulsão para beneficiar apostadores que lhe pagam uma porcentagem.
Um zagueiro do time do Santos recebeu R$ 50 mil para levar um cartão amarelo contra o time Avaí e não cumpriu sua parte do “negócio”. Para se redimir, teria prometido ser expulso diante do Botafogo cinco dias depois. O zagueiro levou o vermelho, mas após o apito final, o que não é contabilizado nas casas de apostas segundo informações do UOL Esporte. O atleta foi ameaçado de morte inclusive.
Se acontece isso no futebol, imagine com esports?
Apostas e videogames
Enquanto o nerdola se preocupa com a elfo negro empresas de aposta estão patrocinando eventos e times dos mais diversos games competitivos. Esport é esporte ou não? Isso não importa neste momento já que menores estão nos games, incluindo jogadores profissionais, e de uma certa maneira eles são alvos de apostas.
Se um jogador de futebol sofreu assedio, imagine um adolescente no seu joguinho? Em League of Legends, por exemplo, há uma série de opções para o apostador. Cada categoria com suas regras e premiação. Você pode apostar em número de abates, resultado exato e até “onde ganha a equipe que vencer os 3 mapas”.
É fácil acompanhar pela internet as casas de apostas com jogos de DOTA 2, LoLzinho, Valorant, CS:GO, Call of Duty, Overwatch, Starcraft, League of Legends Wild Rift, Mobile Legends, Free Fire, PUBG, entre muitos outros. Estes jogos não são infantis, mas menores de idade com certeza tem acesso à eles. Aliás, nestes mesmos sites de apostas você pode apostar em UFC, críquete, golfe, basquete, dardos e até política!
Então podemos concluir que jovens estão jogando em partidas em bancos de apostas e alguns estão até apostando. Afinal a publicidade desses sites está LITERALMENTE em todo lugar.
A grande maioria dos jogadores de League of Legends é de homens, solteiros com menos de 25 anos. O jogo tem aproximadamente 180 milhões de jogadores mensais no mundo todo.
Enquanto comunicadores – contratados para divulgar apostas – são jovens adultos é preciso apontar que o público de League of Legends é basicamente de crianças. No Brasil a idade mínima para se criar uma conta no jogo é 12 anos segundo o site oficial.
Regulação é a solução?
Regulamentar jogos de azar (incluindo apostas esportivas) em todo território nacional incluindo e internet é a uma opção. Exigir que os bancos de apostas tenham representantes legais, ferramentas para prevenção de golpes e utilização de menores é o mínimo que qualquer empresa poderia oferecer. Mas as coisas não funcionam assim, não é mesmo?
Como exemplo temos o ministro da economia Fernando Haddad que defende a taxação de apostas enquanto a Bancada Evangélica parece que esqueceu do evangelho e se posicionou contra. A exploração de atletas, abertura para lavagem de dinheiro, abusos e crimes não é algo cristão. É?
Isto não é uma questão religiosa, nem de direita ou de esquerda, é de caráter!
O Fantástico do dia 14 de Maio de 2023 trouxe algumas informações que não deveriam surpreender ninguém em um ambiente desregulado como este. São áudios, vídeos e mensagens que revelam como funcionava a manipulação de apostas em partidas de futebol no Brasil.
E isto não ocorre no campeonato do bairro da minha casa, aconteceu em jogos do Campeonato Brasileiro das séries A e B de 2022! Ainda espera-se mais desdobramentos da Operação Penalidade Máxima. Até o momento apenas os jogadores foram punidos, casas de apostas, financiadores e aliciadores não.
Repito: se isso acontece no futebol profissional, imagine no LoLzinho. O perigo de apostas e videogames juntos é extremamente danoso para o apostador – independente da idade.
Outro fator a se pesar das casas de apostas é que elas pagam comunicadores para divulgar seus serviços. Este conteúdo é para maiores de idade? Não questiono a necessidade de se monetizar, afinal é preciso ganhar dinheiro, questiono o quão escrupuloso é vender apostas em um canal que crianças consomem o conteúdo de jogos.
Na opinião deste humilde palpiteiro de internet as apostas deveriam simplesmente ser proibidas.
Games podem levar ao vício de jogos de azar?
Algumas práticas nos jogos de videogame são mecânicas de jogos de azar. A maior e mais conhecida mecânica desse modelo é o das Loot Box. Nela o jogador pode até ganhar uma caixa surpresa, mas se a compra-la (com créditos de dinheiro real) você tem mais chances.
A Holanda e Bélgica tornaram ilegal qualquer caixa de itens aleatórios de qualquer jogo que esteja disponível em seu território. Suécia e EUA estão em disputa para proibir ou limitar estes itens.
As caixas de itens, ou Loot Box, não são diferentes de uma roleta online e, em alguns casos, são vendidas cheias de enfeites para atrair o jogador. Apostas e videogames nunca deveriam se misturar.
Mais uma vez o capitalismo ataca, em um mundo onde os jogos projetados para crianças não deveriam gerar receita com vício. Quem ganha dinheiro com os jogos que exploram fragilidades de crianças deveriam enfrentar consequências legais… Mas nem taxarem as apostas querem…