Angola Janga de Marcelo D’Salete é uma obra essencial para todo fã de histórias em quadrinhos.
Quando vi tantas análises boas de Angola Janga sabia que deveria colocar o título na minha lista de compras e esperar o momento certo para comprá-lo. O que eu não esperava era ser surpreendido por uma obra de arte de um peso histórico que humildemente tentarei explicar nas próximas linhas.
Não acredito ser digno de analisar uma obra dessas como ela merece. Tanto a arte como a narrativa são de impressionar em suas 432 páginas, a qualidade e expressionismo faz com que ela salte aos olhos do leitor. Infelizmente conheço muito pouco a história de Zumbi e de Palmares, como a maioria dos brasileiros fui submetido à uma história que contava apenas a versão que enaltece jesuítas e bandeirantes sem mostrar o genocídio causado por eles.
O gibi é premiadíssimo vencendo Prêmio Jabuti “Melhor história em quadrinhos”, Prêmio Grampo de Ouro “Melhor história em quadrinho do ano”, Prêmio HQ Mix “Melhor edição especial”, “Melhor Desenhista Nacional”, “Melhor Roteirista Nacional” e “Destaque Internacional”. Além de já ter sido traduzida para o inglês, francês, italiano, turco, alemão e espanhol.
Angola Janga é, para mim, quase uma lição de história mas também posso chamá-lo de reparação cultural. De tudo que vi e estudei quando era mais jovem como uma propaganda que tenta louvar esforços para sempre obter mais lucros de mão de obra barata. Não que seja diferente em nossa sociedade hoje em dia, mas hoje tenho noção do que aconteceu e se repete e tento diariamente lutar contra esse sistema.
A história de Zumbi e Palmares deveria ser contada nas escolas e enaltecida por todos. Ela mostra o quanto os oprimidos podem fazer se bem organizados e dispostos a pensar no bem coletivo. Esta é uma lição importante e cada vez mais atual.
Apesar do desfecho histórico sabemos que por vezes a jornada é mais importante que a efetiva chegada ao seu destino. Transformar Zumbi em herói nacional é o mínimo que deveríamos fazer e trilhar seus exemplos deveria ser um ideal à ser alcançado. O que esta obra me ensinou e me fez sentir é difícil mesmo de explicar. Talvez devesse ler mais obras desse tipo, talvez todos nós precisemos ler mais obras desse tipo para que, pelo menos, não seja cometidos os mesmos erros do passado.
No Brasil, onde a cultura negra é tão pouco valorizada e cultuada, ter uma obra como estas é de extrema importância para todos. A cultura nacional agradece um texto com um argumento tão afiado que é possível se cortar. As citações históricas (que poucos devem ter visto) são um complemento importante que trazem a mensagem chocante para os desavisados: a carnificina e perseguição aos negros e povos originários foi real.
Estou convencido que Angola Janga deveria ser uma obra que todo brasileiro deveria ler. Se pudesse enviaria a versão em inglês para meus autores favoritos verem, e talvez entenderem, como a arte em nosso país é. Imaginem só como seria a cultura de um país como nosso se houvesse incentivos. Este quadrinho não é uma obra de arte a toa e limita-la ao Brasil seria um erro, essa história deve ser transmitida para a humanidade.
O gibi pode ser adquirido pela Amazon ou direto no site da Editora Veneta.
Uma resposta em “Angola Janga”
[…] temos poucas estátuas de quem realmente importa em nossa história. Temos poucas estátuas de Zumbi, temos poucas estátuas de Paulo Freire e Nzingha Mbande. É triste essa situação pois uma […]