Gibi e política com bonecos? Vingadores – Crepúsculo é pura política.
Em algum momento na história recente da humanidade alguém tentou emplacar a ideia de que nada é politizado, sendo que tudo é política. Filmes, séries, quadrinhos, tudo envolve política de alguma forma e se as pessoas entendessem isso talvez até aproveitariam mais as histórias. Com isso afirmo que Vingadores – Crepúsculo é pura política.
Quando li o prefácio do que viria a ser Avengers – Twilight, me contorci. Duvidei que um gibi seria político o suficiente, afinal é um gibi de boneco com um cara que usa a bandeira dos EUA como escudo. Mas a história consegue equilibrar muito bem o argumento político, a aventura e até a arte de maneira pouco vista nos quadrinhos dos EUA hoje em dia.
A versão original gringa foi publicada em seis edições mensais e tem roteiro do versátil Chip Zdarsky e a arte fenomenal de Daniel Acuna. O roteirista é responsável por algumas inovações interessantes na Marvel Comics e muita bagunça na DC Comics, mas calma, isso é muito bom e só mostra o quanto seu repertório é amplo.
A história mostra um Universo Marvel em um futuro próximo onde os Vingadores que conhecemos se aposentaram, sumiram ou morreram. Neste mundo Steve Rogers não é mais o Capitão América e vive um mundo onde a liberdade é uma ilusão dominada por uma mão de ferro fascista, mas que vende outra imagem nas redes sociais.
Neste mundo Matt Murdock é um advogado cheio de casos por conta de uma lei chamada Watcher Act (PL do Vigia?) que transforma qualquer um com câmeras – incluindo crianças – em um criminoso. Por que será que tem gente que não gosta de câmeras que não são controladas pelo sistema?
E a partir daqui surgirão spoilers da história.
Apesar da história se passar no futuro ela poderia se passar nos dias de hoje facilmente onde grandes mídias insistem em alienar a população. Sejam da mídia, sejam das redes sociais, aqui tudo é dominado por um único ser, o capitalismo o Caveira Vermelha.
Uma grande quantidade de heróis morreu lutando a inteligência artificial Ultron durante o chamado H-Day. Para salvar a população um governo totalitário comandado por um presidente que é uma marionete de Kyle Jarvis, mentor de James Stark (filho do Homem de Ferro e Vespa). O segredo do Serviço Secreto é que eles trabalham para o CEO dos EUA, Kyle Jarvis – o Caveira Vermelha.
Os Vingadores deste futuro são um projeto holográfico do governo que utiliza a tecnologia do Homem de Ferro para vigiar e policiar todos. As redes são fiscalizadas para impedir que a verdade do sistema seja espalhada… Com isso os homens de ferro chegam e mostram a força da sua “democracia”.
Literalmente o Caveira Vermelha é o fascismo, a extrema direita, ganhando as redes sociais e vendendo a sua versão dos acontecimentos como a verdadeira. Qualquer coisa que vá contra ele é contra o sistema e contra a “liberdade”. Mas obviamente ninguém sabe que o vilão é o vilão, entreguei essa parte da trama cedo demais, me desculpe.
Até um documentário “paralelo” é divulgado mostrando que o Caveira Vermelha foi, na verdade, um herói na Segunda Guerra Mundial. Extremamente similar à um certo país onde uma parte da população acredita que não houve ditadura militar.
A resistência, como sempre, vem das ruas. Com a mentoria de um envelhecido e quase petrificado Luke Cage, uma nova geração de heróis surge para tentar mostrar a verdade para a população que, em alguns casos, não faz ideia que vive em um ambiente fascista.
Outra novidade é o casamento de Steve Rogers com uma latina, a Dra Rosa. E sim, o Capitão América salva os EUA no final, mas dessa vez com muita política no meio.