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Um insulto à própria vida

Farofeiros, farofeiras e farofeires, preferia um xingamento, uma ofensa direta, mas o que conseguimos com um insulto à própria vida como Hayao Miyazaki do Studio Ghibli declarou ao ser consultado sobre a possibilidade de ajudar na criação de uma inteligência artificial.

Abaixo você confere o vídeo de Miyazaki (de oito anos atrás) que gerou o ódio daqueles que acreditam que algo criado por IA – treinada com o roubo do trabalhei alheio – tem algum valor. A IA generativa demonstrada é uma para criar monstros e zumbis com semelhança aos humanos.

A arte sem o artista. Não necessariamente aquele de formação, mas sem aquele que realmente se importa com a motivação de sua criação – seja ela frívola ou profunda. Este individuo não precisa existir, basta você pagar o pacote de IA mais caro e usar os recursos para copiar algum artista que não vai ser creditado.

Como Miyazaki acredito que assim como o lápis, os computadores são ferramentas de trabalho. Inegavelmente essas ferramentas facilitam o trabalho e, de acordo com a sua possibilidade e necessidade, seu trabalho tem um resultado diferente. Melhor, por assim dizer.

Não quero discutir o que é arte em si, ela é subjetiva demais até para mim. Mas quando a arte perde o componente humano, quando a arte precisa ser feita em menos de uma hora para poder ser um hit nas redes sociais, surge a necessidade de explorar o trabalho de alguém, de precariza-lo e substitui-lo por uma máquina que rouba a arte alheia.

Mas há outra questão, tão importante quanto, é que as pessoas que estão usando a IA não se preocupam mesmo com a arte. Elas só se preocupam neste momento, só querem fazer parte de uma “trend” ou “modinha” do momento.

Hayao Miyazaki tem lutado contra a automação da arte há décadas, relutantemente começou a utilizar processos computadorizados, mas não há como aceitar sua arte ser desapropriada maneira por uma IA.

Totoro voa com um guarda chuva em cima de um peão com duas garotas agarradas em seus pelos - blog FAROFEIROS

A Casa Branca (sic), políticos brasileiros de esquerda e até o casal com um cachorro na praia fomentaram o roubo da identidade do trabalho de Miyazaki e das obras do Studio Ghibli, jogando décadas de trabalho e esforço de artistas memoráveis na latrina em nome de algumas curtidas nas redes sociais. Não há respeito pela arte, não há respeito pelo artista e muito menos há respeito pelo trabalhador.

Você se lembra da última vez que viu um filme, ou animação, que te tocou sem ter sido um corte do Tiktok?

O problema começa em você que utiliza a IA que roubou o trabalho de Miyakai, mas você não é o principal problema. As maiores empresas do mundo como Google e Open AI não querem pagar direitos autorais para criadores do mundo todo. E acredito que você até possa concordar com isso… Só quero saber se você também será a favor quando o seu trabalho, a sua criação, for roubada por empresas bilionárias sem te dar crédito ou dinheiro por ele.

As big techs precisam ser regulamentadas, sejam nas redes sociais, sejam com apps, sejam com IA. Elas ganham sempre enquanto eu e você perdemos.

Mais uma coisa, um insulto à própria vida você aceita, mas e quando a vida insultada é, especificamente, a sua? Como você faz?

Por Rodrigo Castro

Debochado e inconveniente. Escritor, roteirista e designer de brincadeirinha.

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