ESPECIAL RALOU, HEIN: Trilogia X!
A Trilogia X, de Ti West, é um espetáculo do começo ao fim. Cada um dos filmes trazendo um mundo diferente do cinema e suas particularidades: Pearl como um pesadelo technicolor Mágico de Oz sob crack; X como o slasher sujo dos anos 70; Maxxxine como o grunge urbano-policial dos anos 80.
Perfeição.
Pearl (2022)
Você é agredido pela saturação berrante das cores que nos apresenta uma Pearl imigrante alemã durante a Primeira Guerra Mundial nos EUA. Absolutamente delusional com síndrome de grandeza, Pearl acha que é uma estrela e que merece ser tratada exatamente dessa forma.
O filme segue o formato dos anos 20 na velocidade do roteiro e no desenvolvimento das personagens. Bebe muito do visual de O Mágico de Oz e Psicose. A trilha sonora foi composta por uma orquestra gigante que levou quase todo o orçamento do filme (mas, por deus, valeu cada centavo).
Pearl foi filmada às escondidas durante a produção de X, inclusive. Isso faz com que Pearl e X tenham um casamento perfeito em enredo.
Pearl é um sonho lúcido louco e completamente maníaco do começo ao fim. Impossível não se deliciar com a mente de Pearl distorcendo a realidade e simplesmente surtando com cada microexpressão das pessoas à sua volta.
Porra, ela só quer ser amada por todos 🙁
Afinal, ela é uma ESTRELA
Divertidíssimo, absurdo. Comece a trilogia por esse filme (e não por X).
X (2022)
O primeiro filme da trilogia, mas o segundo em ordem cronológica, X nos leva (ou apresenta) de volta (ou pela primeira vez) à fazenda de Pearl e Harold, um casal (muito) idoso que aceita locar um casebre em sua propriedade para que uma galera passe o final de semana. Sem saber, claro, que a galera estaria filmando um filme pornô.
Da mesma forma que Pearl bebe do cinema dos anos 20 no design e casa o estilo da época com Mágico de Oz, X bebe muito do cinema adulto dos anos 70, quando filmes como Garganta Profunda se tornaram blockbusters por todo lugar. O filme então usa esse plano de fundo e se funde com O Massacre da Serra Elétrica pra homenagear o início do cinema Slasher.
Sujo e depravado, como se espera de slashers, X surpreende por ser profundo e tocante em diversas cenas, principalmente na montagem do grupo jovem cantando e bebendo enquanto Pearl sente ainda mais o peso da sua idade ao remover sua maquiagem e penteado e vestido depois de ser “rejeitada” por Harold, que não aguentava mais o tranco por conta da idade. Tocante demais, uma mudança de marcha incrível no meio do filme e separando os dois atos com maestria.
Foi uma montagem foda de roteiro, humanizando os vilões de X (Pearl e Harold) ao mesmo tempo que criava simpatia pelas vítimas.
X pega a dicotomia dos anos 70 do terror, onde o sexo era punido pelos vilões e a mocinha virginal se tornava a final girl e destrói em mil pedaços.
Impossível torcer ou pra Pearl ou para Maxine. Você torce pra ambas por que ambas têm seus desejos, seus medos e suas superações.
Maxxxine (2024)
O design de produção e a trilha sonora são ESTUPIDAMENTE bons em Maxxxine. Você esquece diversas vezes que não está vendo um filme dos anos 80. O jogo de câmeras, as atuações, a forma como o roteiro se desenvolve com umas tiradas pastelão. Chef’s kiss.
Em Maxxxine acompanhamos Maxine (duh) em sua tentativa de sair do mundo adulto e entrar no cinema, obviamente no terror estrelando A Puritana.
De novo, na mesma jogada de Pearl e X que casam época e obra, Maxxxine traz o cinema de terror saindo da sarjeta e se posicionando como cinema “de verdade”. A interposição de Maxine que vive num surbúbio punk-grunge onde interage com trabalhadoras do sexo, traficas e o que mais vier do “submundo urbano”, com as cenas dentro dos sets de filmagem, com tudo clean e austero, traz bem essa ideia geral de Ti West.
Some isso com uma dupla de investigadores da Homicídios que saíram dos seus melhores seriados policiais dos anos 80, mais um detetive particular que persegue Maxine e um plano de fundo de um serial killer e um copycat dele em Hollywood.
Tá feita a receita pra um filme delicioso e nostálgico que não tenta ser novo, só quer ser bom.
Eu já falei que a trilha sonora é do caralho?
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