O símbolo do Justiceiro foi adotado por aqueles que deveriam prendê-lo.
No mundo todo o símbolo do Justiceiro foi adotado por membros de segurança (pública e privada) e armamentistas de extrema direita como seu. O personagem nos quadrinhos não segue a lei e usa a violência como voz, comum em regimes opressores e fascistas… Não é difícil se assustar pois vivemos em um mundo onde algo que todos deveriam repudiar se tornou o desejo de alguns.
Criado em 1974, originalmente um veterano da Guerra no Vietnã, Frank Castle adotou a alcunha após presenciar o assassinato de sua família. Desde então o Justiceiro usa métodos violentos para saciar sua sede de sangue.
Gerry Conway, o criador, diz que os leitores norte-americanos poderiam associar o personagem com as políticas de combate ao crime adotadas na década de 1980 durante o governo Ronald Reagan. No início dos anos 2000 podia-se notar que Frank não estava bem – mentalmente falando. Apesar disso assassinatos, tortura e violência no geral se mantinham como sua principal tática.
Para a Forbes Conway disse que “o Justiceiro é a representação da falha da lei e ordem ao tratar de preocupações das pessoas que se sentem abandonadas pelo sistema legal” . Para ele “é estúpido e irônico que membros da polícia utilizem o símbolo” (…) “Quero negar a polícia, e milícia, e militares a oportunidade de usar isso como um símbolo de opressão”.
O símbolo apareceu no filme Sniper Americano (2014), como a marca do herói do filme – que não coloca em dúvida a moralidade de seus atos. Desde então tudo foi ladeira abaixo: policiais, militares, seguidores de teorias da conspiração, fãs do fascismo no geral.
Nos EUA a polícia do Kentucky utilizou o símbolo em viaturas. O símbolo também foi utilizado por nacionalistas (aham) brancos em uma manifestação cheia de símbolos fascistas e nazistas em Charlottesville em 2017.
Assim como nos EUA o símbolo adentrou no imaginário dos fãs da opressão. Neste ponto a Delegacia Geral da Polícia de SP precisou emitir um alerta sobre o uso da caveira do Justiceiro em uniformes da corporação. O documento divulgado pela mídia aponta que o símbolo deve ser removido por “não representar os valores da Polícia Civil de São Paulo”.
A Marvel Comics tem agido contra a utilização do símbolo – afinal é uma marca registrada – por forças policiais. Para deixar isso claro foi publicada uma história onde Justiceiro é abordado por “fãs” policiais com um adesivo de seu símbolo da viatura: “Só vou dizer isso uma vez. Nós não somos iguais. Vocês juraram cumprir a lei. Vocês ajudam as pessoas. Eu desisti de fazer isso há muito tempo. Vocês não fazem o que eu faço. Ninguém faz. Vocês precisam de um bom exemplo? O nome dele é Capitão América, e ele ficaria feliz em ouvir de vocês”.
O Justiceiro ainda completa com uma ameaça: “Se eu encontrar você tentando fazer o que eu faço, irei atrás de você em seguida”.
Não importa se você acredita que o Justiceiro tem motivos ou não, ou se você admira seu código ético, ele é um fora da lei e um criminoso. A polícia não deveria usar o símbolo de um criminoso.
Gerry Conway, criador do Justiceiro.
A história pode ser conferida completo em The Punisher #13 (2018 EUA), escrito por Matthew Rosenberg e desenhado por Szymon Kudranski. A Disney também efetuou doações para movimentos sociais e deixou este quadrinho como sua resposta oficial quanto a utilização do símbolo.
O criador do personagem diz que a Disney sabe o quão tóxico é o símbolo e o personagem. Porém acredita que uma versão rebootada seria interessante, um Justiceiro latino, negro ou asiático – já que a maioria das forças armadas dos EUA são pessoas não brancas.
Houve uma tentativa do autor de recuperar o símbolo com a campanha Caveiras pela Justiça(!!!) que arrecadou fundos para a Black Lives Matters.Tal iniciativa não teve o envolvimento da Marvel ou da Disney.
Em Março de 2022 uma nova série do personagem foi lançada nos EUA mudando o personagem. Afinal, Frank Castle não nasceu no minuto seguinte à tragédia que viveu, foi uma evolução. Agora nos resta saber qual o lugar do personagem no Universo Marvel.
A trama começou a ser lançada no Brasil em Fevereiro de 2023 em Justiceiro (2022) #1, da Panini Comics.
A guerra do Justiceiro terá fim? Nascido na tragédia. Devoto à guerra. Imparável em sua raiva. Como o Justiceiro, Frank Castle se tornou o assassino mais talentoso que o mundo já viu. Agora é hora de ele enfrentar seu verdadeiro destino. Que segredo chocante do passado de Frank o convencerá a assumir as rédeas do mais notório clã de assassinos do Universo Marvel? E quando Frank se tornar o senhor da guerra dos mortais ninjas da Mão, isso também significará o fim do Justiceiro? Ou um novo começo sangrento?
Acredito que alguns símbolos devam ser abandonados sim. A “resignificação” é algo complicado e constantemente se torna confuso, dando mais destaque ao que deveria ser coibido.
Justiceiro sempre foi um personagem datado na minha opinião, sua vida deveria ter sido curta e uma redenção deveria ser permanente. A história de Frank Castle deveria ter chego ao fim.