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O Pai do Orçamento Secreto

Imagine uma novela política brasileira. No papel principal, um presidente que jura de pés juntos que nunca teve nada a ver com aquele tal “orçamento secreto”. No roteiro? Bastidores no Palácio do Planalto, uma aliança com o Centrão e bilhões de reais dançando conforme a música. Spoiler: o nome dessa novela é “Bolsonaro e o Orçamento Secreto”.

Episódio 1: “Eu? Nunca nem vi”

Desde que a expressão “orçamento secreto” virou figurinha carimbada nos noticiários, Jair Bolsonaro tem feito de tudo para convencer o público de que seu governo não teve nada a ver com isso. Diz que vetou, que não aprovou, que foi contra. Mas os bastidores contam outra história e ela não tem nada de secreta.

Logo no início do mandato, Bolsonaro se viu encurralado: pedidos de impeachment pipocavam, investigações sobre rachadinhas dos filhos emergiram, e o apoio político ameaçava evaporar. Foi aí que ele fez o que muitos políticos fazem em tempos difíceis: ligou pro Centrão. E como todo bom pacto político, teve preço.

Episódio 2: A gestação do orçamento

Apesar de o projeto ter sido inicialmente proposto pelo Congresso, foi dentro do Palácio do Planalto que ele ganhou forma. Bolsonaro até chegou a vetar a medida publicamente, aquele famoso gesto para o eleitorado sedento por um outsider político. Mas bastou virar as costas que seu então ministro da Casa Civil, general Ramos, reapareceu com uma versão “repaginada” da proposta. Adivinha? Foi aprovada rapidinho.

A partir de 2020, o Congresso passou a ter poder sobre uma fatia bilionária do orçamento federal, sem muita transparência ou controle. Quem confirma isso? Ninguém menos que Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara, que cravou: “Bolsonaro é o pai do orçamento secreto”. DNA político, sabe como é.

Episódio 3: Milhões, fraudes e extrações de dentes

Nos três anos seguintes, R$ 65 bilhões foram parar nas mãos do Centrão para execução via emendas do relator. Isso significa que prefeitos e aliados políticos passaram a decidir o destino de grandes recursos e, com isso, vieram os escândalos.

Entre os destaques: uma cidade do Maranhão que teria feito mais testes de HIV que São Paulo e outra em que cada habitante teria tido até 19 dentes extraídos.

Episódio final: O teatrinho do veto

Bolsonaro insiste que vetou o orçamento secreto. Tecnicamente, é verdade. Mas só até a hora em que ele próprio ajudou a criar uma versão alternativa, que foi aprovada e colocada em prática pelo seu próprio governo. Uma espécie de “veta com uma mão e assina com a outra”. Uma performance para os seguidores.

Por Paola Costa

Professora, podcaster e palpiteira. Só falo de temas aleatórios, não reparem a bagunça (ou reparem).

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