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O golpe que saiu da impressora

Quem diria que a velha e boa impressora do Palácio do Planalto entraria para a história política do Brasil? 

Pois é. Se alguém ainda tinha dúvidas sobre o nível de planejamento (ou de improviso) de uma tentativa de golpe em 2022, a Polícia Federal tratou de acrescentar mais um capítulo ao enredo: o plano batizado de “Punhal Verde e Amarelo” foi impresso no coração do poder, dias após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições.

Sim, você leu certo. Nada de criptografias complexas ou reuniões em porões escuros. O documento que previa o caminho para anular as eleições e “reorganizar” o Brasil foi parar no papel com tinta e tudo, direto da máquina localizada no gabinete presidencial. O autor da façanha? O general da reserva Mário Fernandes, então secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, que provavelmente pensou: “Se é pra dar golpe, que seja com layout bem diagramado”.

Reuniões e “soluções finais”

Os erros de Bolsonaro são uma ilusão - 2 - Blog Farofeiros

No mesmo dia em que Bolsonaro  imprimiu o plano, Fernandes foi até o Palácio da Alvorada — ainda residência oficial do inelegível — onde, por coincidência (ou não), também estava Mauro Cid, o fiel escudeiro de Jair. Os dois estavam no local ao mesmo tempo, e a PF não achou isso mera coincidência. A movimentação reforça o que já se suspeitava: o núcleo duro do ex-presidente estava, sim, articulando um golpe, ainda que mal encadernado.

E o conteúdo desse documento? Nada suave. O plano previa a prisão de autoridades do Judiciário, fechamento de instituições, e até atentados contra a vida de Lula, Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. Tudo isso sob um título: Punhal Verde e Amarelo.

O roteiro da conspiração ainda inclui uma reunião, dias depois, na casa do general Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro em 2022. Lá, militares de elite conhecidos como “kids pretos” (sim, é esse o apelido) discutiram “soluções” como envenenamento, tiros e explosivos. Se a ideia era discreta, ninguém avisou os envolvidos.

Contragolpe em ação

Os erros de Bolsonaro são uma ilusão - 2 - Blog Farofeiros

Avançando para 2024, a PF lançou a Operação Contragolpe, desdobramento que não só levou à prisão de Mário Fernandes como também revelou o uso indevido de recursos públicos para financiar esse devaneio autoritário. A investigação continua, e o cerco se fecha em torno dos envolvidos — inclusive os que acreditaram que golpe de Estado podia começar com um Ctrl+P.

No fim, o episódio é tragicômico. Trágico pelo risco real à democracia brasileira. Cômico porque, no século XXI, o primeiro passo do plano não foi um código secreto ou reunião no exterior, mas… uma impressão no Palácio do Planalto.

Entre papel A4 e toner, segue a luta para que nossa democracia continue respirando sem precisar de manutenção de impressora.

Por Paola Costa

Professora, podcaster e palpiteira. Só falo de temas aleatórios, não reparem a bagunça (ou reparem).

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