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Não sei como falar sobre a tragédia no Rio Grande do Sul

Desculpe, mas não sei como falar sobre a tragédia no Rio Grande do Sul.

Farofeiros, farofeiras e farofeires, realmente não sei como falar sobre a tragédia no Rio Grande do Sul. Falo, pois, entendo que todos precisamos falar sobre toda a situação, todos os seus aspectos e consequências. Mas dói.

Antes de seguir vou pedir para que você que está lendo este relato atente-se para potenciais gatilhos não gráficos. Este é um desabafo, meço minhas palavras, mas não sei como elas poderão te atingir. Não sei como me expressar corretamente nessa situação caótica, mas sei que preciso falar.

Toda hora tenho medo de perguntar algo e a situação ter piorado e eu, na minha humilde humanidade, não poder fazer simplesmente nada. A sensação de impotência ao olhar para catástrofes que remetem o apocalipse bíblico me irrita. Fico nervoso com a falta de condições de agir da maneira devida.

Posso apenas imaginar o que a população está passando neste momento. Sei que não existe uma régua para medir sofrimento e, obviamente, não estou sofrendo da mesma maneira daqueles que foram afetados e perderam simplesmente tudo.

Bens materiais se foram, histórias acabaram e vidas foram para sempre mudadas devido à negligência de governo estadual e prefeituras que simplesmente ignoraram avisos de ambientalistas de 40 anos atrás. E mesmo quem luta contra privatizações e que tentou eleger candidatos com pautas mais humanitárias estão sofrendo o mesmo que o eleitor de direita. Sim, existe o eleitor que votou para destruir uma proteção da cidade contra as chuvas que não foi suficiente. Imagine se ela não existisse.

Não sei como falar sobre a tragédia no Rio Grande do Sul - 2 - BLOG FAROFEIROS

Me perdoe se o pensamento parece confuso às vezes, mas não é por acaso. É difícil colocar razão e enfileirá-las em um roteiro quando o que ocorre dentro de mim é extremamente confuso e dolorido. E o que sinto não é nada se comparado ao que as pessoas que estão fugindo da água estão sentindo neste momento.

O que vemos nas notícias é algo mais devastador do que o Furacão Katrina! A reconstrução de tudo que o furacão causou levou mais de 10 anos e custou mais de 125 bilhões de dólares. Como nós contabilizamos isso para as pessoas que perderam tudo? Como alguém do governo estadual ou municipal chega para a população e fala que não tem dinheiro para ajudar?

O mesmo prefeito que ZEROU os recursos para manutenção do sistema de comportas que ele queria destruir aprovou na Câmara Municipal o aumento de 60% em seu salário, 65% no salário do vice e aumento de 35% no salário de vereadores entre 2025 e 2028. Não é momento de apontar culpados?

Os 151 mortos (até o momento) e as mais de 538 mil pessoas desalojadas não devem concordar com isso.

No Farofeiros Cast vamos para a terceira semana seguida falando da tragédia pois acredito ser importante continuar denunciando tudo o que está acontecendo de errado. Brincamos que temos operados na força do ódio. E temos mesmo, não dá mais para ficar nessa conversinha do governador que não quer atender quem mais precisa, como as comunidades quilombolas.

Segundo o Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, “O poder público não tem a estrutura suficiente para atender em todas as pontas”. Os fãs do estado mínimo devem estar felizes com essa tragédia provavelmente, a falta de ação de algumas das autoridades estaduais e municipais mostram isso. Ainda bem que temos um governo minimamente preocupado com toda a situação. Em outros momentos da nossa história recente teriam dito que é “apenas uma chuvinha” e sairia para passear de jet-ski.

Além da raiva a culpa por estar vivendo no conforto da minha casa e não poder ajudar mais do que estou fazendo. Não sei como falar sobre a tragédia no Rio Grande do Sul, não me sinto capaz de trazer um relato mais honesto e sincero do que este.

No final só podemos fazer o que podemos fazer. Então que eu e você tenhamos forças para fazer o que podemos para ajudar. Mesmo que isso envolva conversar e sensibilizar outras pessoas, afinal todos nós poderemos nos tornar refugiados climáticos.

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Os praticantes da política paralela sorriem nas tragédias, repare como na pandemia e agora no RS, veja quem está ajudando e quem está espalhando mentiras na rede.

Por Rodrigo Castro

Debochado e inconveniente. Escritor, roteirista e designer de brincadeirinha.

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