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Não há loucura no diamante brilhante

Desde a tenra idade, fui criado em um ambiente de música. Em casa havia pilhas e pilhas de vinis tanto herdados quanto adquiridos no decorrer de minha vida. Hoje digo que me rendi ao Streaming tanto pela facilidade, quanto pela gama de bandas das quais adoro como novas que vou descobrindo. Mas velhos hábitos e gostos sempre estão no meu dia a dia a exemplo do Pink Floyd, banda da qual admiro e considero a maior banda de rock do século 20 (até o The Wall) mas que sempre me fascinou em seu momento inicial.

Jovens com menos de 30 anos, alguns apenas observando, outros dançando em completo estado de transe, estranhas melodias repetitivas e duradouras, efeitos de luz psicodélicos utilizando um preservativo esticado com respingos de tinta sobre um projetor, assim era a cena Underground nas noites de sexta na UFO Club localizada em Londres nos anos 66/67

Não há loucura no diamante brilhante - Syd Barret - Pink Floyd - Blog Farofeiros

É neste período que temos uma das figuras mais complexas, apaixonantes, obscura e reverenciada não só por fãs anônimos, mas por personalidades que foram influenciadas por sua música que chocavam a todos, até mesmo amantes do rock. Com uma Telecaster espelhada, um amplificador Selmer no máximo e um isqueiro Zippo, Syd Barret deu à luz a dois subgêneros do rock, influenciando dezenas de artistas: o Rock Psicodélico e o Space Rock. Havia claro quem odiasse e foram muitos, assim como foi e sempre serão os artistas a frente de uma nova geração.

I want to ask one fundamental question. Why must it all be so terribly loud?

Hans Keller – The Look of the Week – BBC 1967

Dotado de grande criatividade,  os primeiros singles de sucesso (Arnold Layne e See Emily Play) e oito das onze músicas de The Piper at the Gates of Dawn foram escritas e compostas exclusivamente por Barret e duas com sua participação, sendo apenas Take Up Thy Stethoscope and Walk criada por Waters. Até mesmo no segundo álbum (A Saucerful of Secrets) ele contribuiu com Jugband Blues no qual ele já estava fora da banda.

Syd Barret saiu do Pink Floyd, mas o Pink Floyd nunca saiu de Syd, sendo o disco Wish You Were Here praticamente é uma ode a Syd e o personagem Pink de The Wall, no qual traços de sua personalidade foram baseados nele segundo Waters.

Inúmeros são os relatos, assim como é visível em vídeos do clipe promo Jugband Blues e Apples and Oranges no programa American Bandstand de Dick Clark sobre seu estado mental. Barret foi um consumidor constante de LSD e outras drogas como Mandrax e sua personalidade e performance mudou de forma abrupta em meados de 1967. Depois de inúmeros incidentes em shows, principalmente na fatídica turnê nos EUA, Syd foi sendo deixado de canto e substituído por David Gilmour, algo que aliás inicialmente a banda escondia de Syd inicialmente, mas que foi ocorrendo de forma orgânica, tendo em vista que ele já estava em um estado mental visto inúmeras vezes em estado catatônico. Outra percepção de sua mudança são em relação as letras e melodias compostas após The Piper at the Gates of Dawn, Jugband Blues foi incluída, porém Vegetable Man e Scream Thy Last Scream foram excluídas pois seriam muito “sombrias” para serem incluídas.

In my paisley shirt I look a jerk / And my turquoise waistcoat is quite out of sight/ But oh oh my haircut looks so bad / Vegetable man how are you?

Vegetable Man – Pink Floyd

Fora do Pink Floyd, lançou dois álbuns em 70 (The Madcap Laughs e Barrett) ambos apoiados por membros do Pink Floyd, na tentativa de ajudá-lo, porém parecia tarde. Suas músicas refletiam angústia, decepções, algumas até animadas como Effervescing Elephant, porém ali temos o que passava na alma de Syd. Os álbuns tiveram uma certa recepção, mas nada daquele espírito inovador e cativante de sua era de ouro.

Muito se especulou de Barrett sobre sua saída repentina, seu estado mental e sua reclusão até a morte em julho de 2006, sendo o mais citado por todos que ele sofria de Esquizofrenia agravado pelo consumo excessivo de drogas. Sua irmã com qual ele morava disse que ele nunca sofrera de algum transtorno mental, que ele nunca havia sido internado ou até mesmo medicado para tais perturbações. De fato era algo a se pensar, nunca houve um diagnóstico por um médico especialista e foi provado que ele nunca ficou internado em nenhuma instituição para tratamentos mentais ou algo semelhante, então o que pode ter ocorrido com Barrett?

Me deparei então com um artigo bastante interessante de um jornalista italiano Mario Campanella (CAMPANELLA, 2015) na qual fez uma pesquisa  bastante minuciosa onde verificado que realmente não há nenhuma evidência concreta de que Syd sofria de Esquizofrenia, que aliás é reforçado apenas por Roger Waters. Segundo pesquisa e publicações dos livros Madcap: the half-life of Syd Barrett, Pink Floyd’s Lost Genius de Tim Willis e A Very Irregular Head: The Life of Syd Barrett de Rob Chapman, tendo em vista o comportamento de Syd desde sua infância e baseado em relatos de amigos e familiares coletados e descritos por familiares é que Syd poderia sofrer de Síndrome de Asperger, que poderia explicar alguns de seus comportamentos inclusive a sensibilidade auditiva e visual, que pode ter colaborado para sua criatividade e ao mesmo tempo, afasta-lo de uma vida tumultuada de shows e entrevistas constantes. Outra causa que pode refutar a conclusão sobre a Esquizofrenia é o fato de Syd nunca ter sido internado e nem mesmo medicado, ao contrário, levava uma vida comum inclusive visitando galerias de arte, pintando e fazendo jardinagem, inclusive conversava com pessoas. Somente duas coisas eram peculiares a ele, a reclusão e nunca falar sobre ou mesmo procurar o Pink Floyd.

Sobre o seu comportamento errático e muitas vezes fora de sintonia com a realidade, pode ter sido ocasionado pelo uso excessivo de drogas, inclusive com relatos de uso involuntário, no qual pessoas que o seguiam e o veneravam colocavam LSD no chá sem seu consentimento e fornecia a Syd, naquela época alguns acreditavam que o LSD abria as Portas da Percepção e todo este excesso pode ter sido crucial para um colapso mental.

Now there’s a look in your eyes / Like black holes in the sky / Shine on, you crazy Diamond

Shine On You Crazy Diamond  – Pink Floyd, Wish You Were Here

Independente do que possa ou não ter ocasionado a saída de Syd o que posso concluir é que Syd foi e sempre será a alma do Pink Floyd, na qual muitos tiraram proveito de sua criatividade e de sua imagem inclusive faturando milhões e claro que a banda queria alçar voos mais altos e Syd era uma pedra no caminho. Este ano estreia mais um de dezenas de documentários sobre Syd , Have You Got It Yet? estreia ainda neste semestre e confesso que estou ansioso para assisti-lo.

Syd Barrett não foi um Diamante Louco que brilhou, mas sim um Diamante Criativo que brilhou imensamente, porém ofuscado pelas drogas, gruppies e pelo massacre do showbiz.

Por Leandro Queiroz

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