A gente maceta o apocalipse todos os dias aqui, viu.
Farofeiros, farofeiras e farofeires, esse carnaval trabalhei como um condenado e ele ainda nem acabou. Enquanto alguns vivem no país das maravilhas conservadoras esperando o fim dos tempos tem gente que maceta o apocalipse todos os dias.
Nesse carnaval eu macetei viu, e nem estou falando de carnavrau, estou falando de pesquisar e ajeitar tags de mais de 200 vídeos de um esquema que ainda não dá dinheiro. Preciso que essa bagaça renda alguma coisa e o horário apropriado para lidar com isso é o horário em que eu deveria estar descansando ou viajando. Talvez jogando algum jogo com temática ruim e de gosto duvidoso… Ou até mesmo eu poderia aprender Python finalmente. Mas não, resolvi investir meu tempo em algo que não dá dinheiro e talvez nunca dê.
Porém este é apenas o meu caso, está longe de ser o da maioria brasileira. Mas é importante lembrar que, para que todo mundo viaje e até pule é carnaval na avenida é preciso ter gente que tem gente que maceta o apocalipse ali. Gente que limpa, gente que organiza, gente que faz segurança, gente que puxa fio, gente que pula por horas para garantir um divertimento bacana.
E, no meio do início do fim dos tempos, a vida nos mostra uma cantora fora da mídia em cima de um trio elétrico querendo pregar. A pessoa achou que seria uma boa ideia anunciar o fim do mundo no ponto de vista cristão nos próximos 5 ou 10 anos. Bem, já que o mundo vai acabar no meio do carnaval de 2029 ou 2034 já podemos nos preparar, não é mesmo? E, talvez, ela mesmo esteja se preparando, quem sabe a pessoa precisa demais pessoas em sua igreja para garantir que ela se mantenha financeiramente.
Será que a pessoa que se propõe a fazer isso durante o carnaval ajuda as pobres almas pecadoras fora do trio? Será que o povo cristão em viagem está preocupado com o apocalipse? Será que a pregadora do trio elétrico está preocupada com o fim do mundo que acontece todos os dias na vida de milhares de brasileiros? Ou será que ela está tranquila pois, em sua crença, ela é merecedora do paraíso e quem não for fodaci.
Admiro demais Ivete Sangalo e não é de hoje. Não posso dizer que sou fã de suas músicas ou que conheço algum passinho, mas respeito demais a figura e reconheço sua importância cultural. Neste evento ela mostrou ainda mais sua importância como símbolo, sua estrela brilhou ainda mais e o carnaval de quem estava ali foi salvo.
Uma festa popular, transformada em palanque religioso… Ainda por cima uma crença de seguidores que adoram demonizar o que vem da África. Isso tem nome: hipocrisia.
Pensamento do Dia
Continuo sem saber o que estou fazendo aqui, mas pelo menos estou macetando.