Bem vindo ao país do futuro, bem vindo à Kombi Nação!
Entre os anos 60 e 80 o país ainda se encontrava em um regime ditatorial, com restrições à importação de produtos. Na selva de pedra que conhecemos como Kombi Nação, a alimentação era bem restrita, eram caçados e utilizados na alimentação o animal popularmente conhecido como Kombi. Era um animal barulhento e lento oriundo da nossa fauna que domesticados, podia-se extrair o pastel e o caldo de cana, alimentos essenciais para os nativos, eram sempre encontrados em feiras itinerantes ou em locais no meio da selva. Além da alimentação era um ótimo meio de transporte, carregando pessoas e até mesmo cargas. Era o que tínhamos disponível naquele período e nos virávamos muito bem.
Este cenário mudou no início dos anos 90, quando o chefe das tribos unidas disse que nosso estimado animal era ultrapassado e decidiu então abrir a importação de novos seres a esta terra. Com isso foram trazidos das longínquas terras Asiáticas dois animais que revolucionariam as tribos. O primeiro deles foi a Besta, animal de grande porte nascido para o transporte de pessoas, era muito mais confortável e silencioso logo foi adotado como principal condução, especialmente dos estudantes das tribos.
O segundo era um animal bem menor e estranho, conhecido como Towner, porém este causou uma revolução na alimentação dos nativos, dele era extraído o que foi o principal alimento de todas as tribos, o cachorro-quente. Diferente da Kombi, era um animal extremamente versátil e de fácil reprodução, logo dominou toda a fauna Paulistana, em portas de baladas, escolas, faculdades, em todos os lugares era a febre culinária do momento O número de reproduções era tão alto que logo canibalizou nossa espécie nativa a Kombi.
Os anos foram se passando e mais iguarias foram criadas do versátil e pequeno animal, mini-pizzas, churros, coxinhas e batatas-frita mas, ainda assim o cachorro-quente era o carro chefe. Tudo parecia bem, todas as tribos estavam felizes exceto uma, os farialimers. Uma tribo elitista localizada no centro da floresta, os farialimers destruíam tudo o que via pela frente, habitando ocas imensas de vidro e pedra, eram reconhecidos por suas vestes compostas por camisas sociais azul, coletes acolchoados, jeans e sapatênis, andavam em bandos com seus patinetes elétricos e odiavam as demais tribos, mas especialmente a culinária destas tribos.
A partir dos anos 2010, viram uma oportunidade de erradicar a culinária popular da selva, em um acordo com as tribos de Kombi Nação, os Madalenas, Jardins e Morumbis, criaram um plano já adotado em sua infraestrutura e agora adaptada a alimentação. A gentrificação era um modo de convencer e forçar todas as tribos a transformar toda culinária básica. Logo foram trazidos direto da cultura gentrificadora os food trucks, animais pomposos oriundos de nações ricas, forneciam uma imensa gama de alimentos como hambúrgueres, yakisobas, temakis, bolos de pote, saladas, sorvetes, cervejas, etc.
Porém estes eram chamados de gourmets ou artesanais adjetivos adotados pela Gentrificação com objetivo de cobrar o triplo do que valem. Logo se iniciou a caçada, primeiro com a proibição de importar as Towners e classificá-las como pragas e assim foram sendo exterminadas. No caso da Kombi, foi decretada a proibição de procriação da espécie, sendo o último nascimento em 2014. Logo espalhou-se por todos os cantos da selva os food trucks, forçando as tribos mais pobres trabalharem dobrado, para consumir metade da alimentação que antes tinham.
Hoje em 2023 existem pouquíssimas Towners em alguns pontos das tribos, mas já no fim de suas vidas. Já as Kombis sempre foram animais mais duradouros, porém as nações estrangeiras viam a Kombi como um animal exótico e logo virou uma febre a compra destes animais. Muitos são exportados e outros são adquiridos pelas tribos elitistas para serem expostos em feiras de exibição e trancados em espaços escuros e apertados. Pouquíssimas são vistas em feiras das tribos populares resistindo ao tempo .
Não sabemos qual será o futuro alimentar das tribos da floresta Paulistana hoje sob domínio de tribos de alto poder aquisitivo e péssimo gosto, mas uma coisa é certa, num futuro não muito distante, o pastel com caldo de cana será apenas uma página de um livro de história.