US$ 55 Bilhões: Genro de Trump está envolvido na compra da Eletronic Arts
A Electronic Arts fechou um acordo de US$ 55 bilhões para se tornar uma empresa privada, com dinheiro do Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIF), da firma de private equity Silver Lake e da Affinity Partners – empresa de investimentos de Jared Kushner, genro de Donald Trump e ex-assessor da Casa Branca. Então temos a Arábia Saudita e o genro do presidente rei dos EUA na compra da Eletronic Arts.
Seja bem-vindo ao futuro da indústria dos games.
Assassinatos além de falta de liberdade de expressão, associação e crença são só alguns exemplos apontados como potenciais crimes aos Direitos Humanos no relatório de 2024 apontados pela ONU mostrando a cara do regime da Arábia Saudita.
Em maio de 2017, foi noticiado que Jared estava sob investigação do FBI em virtude de uma investigação de maior escala à interferência russa nas eleições. De acordo com o Washington Post, Jared estava a ser investigado “devido à extensão e natureza das suas interações com os russos“.
Minha amada EA (aham), responsável por franquias como Madden NFL, The Sims, Battlefield, Sim City, Mass Effect, o recém-rebatizado EA Sports FC (ex-FIFA), entre tantos outros. A marca sempre foi sinônimo de monetização agressiva com loot boxes para todo lado, microtransações absurdas em jogos de preço cheio (supostamente AAA).
A má fama da Eletronic Arts precede Anthem e, agora, vai piorar.

O grande negócio
A compra foi realizada com acionistas recebendo US$ 210 por ação em dinheiro. Com isso a EA sai da bolsa de valores e entra em um território mais obscuro: o controle de um consórcio formado por um regime autocrático conhecido por violações de direitos humanos, uma firma de investimentos notória por extrair predatoriamente valor de empresas, e o genro do presidente ditador americano.
Aliás Donal Trump tem um famoso histórico que inclui negócios bilionários com… a Arábia Saudita. Coincidência?
A Arábia Saudita não está comprando a EA por amor aos joguinhos. O PIF já era o maior acionista interno da Electronic Arts, com uma participação de 9,9%, e agora consolida seu controle em uma estratégia conhecida como sportswashing.
Essa prática de usar esportes e entretenimento é comum para limpar a imagem internacional de regimes autoritários.
O reino saudita já investiu pesado em futebol comprando o time Newcastle United e na Liga Saudita, atualmente com Cristiano Ronaldo como estrela. Mas também foi investido em pista de Fórmula 1, golfe (LIV Golf) além de e-sports.
Enquanto isso, Jared Kushner e sua firma, Affinity Partners, tem recebido bilhões do PIF saudita desde que deixou a Casa Branca no primeiro mandato de Donald Trump. Nada suspeito, é só capitalismo de livre mercado funcionando.
Valendo US$ 55 bilhões no total este é considerado o maior buyout financiado por firmas de private equity da história.

O que tudo isso significa?
Tá, o genro de Trump está envolvido na compra da Eletronic Arts, e daí?
A princípio, a EA afirma que continuará sediada em Redwood City, Califórnia, e seguirá sendo liderada por Andrew Wilson como CEO. Ou seja, na prática, promete que nada vai mudar.
Mas será?
Agora os donos da EA podem fazer o que quiser, e sabemos que seus interesses que vão muito além de fazer bons jogos.
Acredito que a monetização agressiva será ainda mais agressiva, mas isso ainda não é o pior.
Como apontado pelo jornalista Jason Schreier, mas é importante notar que a aquisição foi financiada com uma dívida para a própria Eletronic Arts de US$ 20 bilhões. O que significa que cortes de custos agressivos ocorreram nos próximos meses… E por “corte de custos” leia “demissões em massa”, private equity adora cortar custos.
A Arábia Saudita não é conhecida por sua tolerância com liberdade de expressão, representações LGBTQIA+, narrativas políticas progressistas ou até mesmo mulheres em posições de destaque. Será mesmo que Mass Effect será financiado com tanta política e beijo na boca?

Não tem como dar certo…
O capitalismo pouco criativo cheio de bugs e com preços altos, deu lugar ao capitalismo predatório sem vergonha nenhuma na cara.
Mas fica a pergunta: até onde estamos dispostos a ir? Até quando vamos aceitar que nossas formas de entretenimento sejam controladas por regimes autoritários e especuladores financeiros? Bem, não que antes não fosse assim, fabricantes de armas e o exército dos EUA até financia alguns jogos. A intenção é sempre recrutar mais soldados.
A EA sempre teve problemas. Agora, ela é literalmente o problema. Comprar qualquer jogo da empresa agora é praticamente uma “doação” para o genro do Trump e a família real da Arábia Saudita.
Aperte o F para a indústria dos games.
Com informações do Rock Paper Shotgun.