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Dupla face é diferente de bipolar!

Por definição do divino sou uma pessoa complexa, fato que lhes digo é, tenho diversas facetas que marcam e deixam me, propriamente falando, mais próximo do divino dupla face.

O interfone tocou, eram seis da noite da sexta-feira, atendi o porteiro de fala estranha. Não, não era sotaque, a fala do sujeito estava conjugada no pretérito imperfeito ao cubo. Inicialmente não entendi nada, mas aí juntei algumas palavras que faziam algum sentido e, berrando a plenos pulmões, avisei-lhe para aguardar que eu já iria ao seu posto afim de resolver a dependência que dependia de mim.

Apenas para lembrar: não uso drogas.

Ao chegar na guarita Serjão, o porteiro, veio em minha direção com um pacote preto enorme. Pensei em Antrax, mas aí lembrei que podiam usar uma caixa menor. Bem menor. Nem caixa precisaria ser. Dizendo com seu dialeto o Serjão, o porteiro, falou que eu deveria “sunssinar zum papel”. Agora damos uma pausa na narração por esse é o ponto de controle, nesta hora mostro a diferença entre dupla face e bipolaridade.

A pessoa dupla face com a caixa nas mãos pegaria o caderno de anotações e a caneta das mãos do Serjão, o porteiro, e em uma manobra ninja apoiaria o caderno na caixa e assinaria com a caneta na boca. Simples assim.

A pessoa bipolar seria mais simples, diria “Porra Serjão, como você quer que eu assine essa merda segurando essa caixa dos infernos infernais do inferno?” Ou então ficaria olhando para a cara do porteiro até que ele decidisse pegar a caixa.

Entendeu a diferença da dupla face? Pois então nobres colegas desprovidos de inteligência quântica, existem outras duas opções neste caso básico. A primeira consiste em fazer e falar o que mencionei acima ao mesmo tempo, xingar, fazer malabares, procurar uma trincheira, matar o vilão e ainda receber um “Brigão partão” do Sergio, o porteiro.

E a última, melhor, mais de bom, supimpa opção que acontece com todos os planetas e luas de Plutão e Saturno se alinharem com a Rua Saturnino de Brito, 74, Jardim Botânico, Rio de Janeiro.

Sim, é praticamente impossível. Fato é que nada disto poderia acontecer se minha queridíssima esposa estivesse me servindo a cervejinha em minha residência e ela pediria uma pausa em seus afazeres carinhosos para pegar minha caixa.

Mas sou facilmente coibido por ela. Temos que temer aquelas que dormem do seu lado, vai que um dia ela se arrependa e arranque uma orelha minha e a coma para eu ficar sempre no coração dela!

Há quem diga que sou os dois ao mesmo tempo. Há quem diga que o Serjão, o porteiro, é uma entidade cósmica que só deixa os mais fortes passarem se o for permitido pelo proprietário do imóvel a partir de ligação interfônica de dupla face.

Pensamento do Dia

“É o que eu acho.”

É.

Pelo menos não encontrei o Homem Aranha indo para o trabalho.

Por Rodrigo Castro

Debochado e inconveniente. Escritor, roteirista e designer de brincadeirinha.

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