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Duna – Parte I

O Duna de Vileneuve está entre nós. Amém.

Quando anunciaram um novo filme de Duna fiquei receoso, a primeira adaptação não é ruim, mas ela é sem dúvida um filho de seu tempo com o visual e os efeitos que a tecnologia na época permitiam… E juro que imaginei que veria uma adaptação daquele filme que não gostava mas também não odiava. Sou fã de ficção científica mas existe muita coisa de gosto duvidoso do gênero, e confesso que realmente fiquei preocupado com este ser o caso da nova versão de Duna. Para minha alegria, não é.

Não li os livros, mas a adaptação de 2021 tem muito mais ficção científica, sem contar que é um filme lindo e dinâmico, diferente da adaptação de 1984. Não sei dizer se o filme é mais um retrato da época, mas a sensação que tive ao assisti-lo era de nojo: do futuro, dos seres, das roupas. Sei lá, para mim o filme de David Lynch tinha a intenção de mostrar que nesse distante futuro o ser humano continuaria a ser podre.

Se você, como eu, cresceu com o Duna antigo te dando pesadelos pode relaxar, a nova versão é mais polida, deslumbrante e exuberante. Há o nojento, há o grotesco, mas eles não foram colocados ali com a intenção de apenas chocar visualmente. Meu deus, nem posso acreditar que estou defendendo Denis Villeneuve acima de Lynch. Porém, a questão é que são filmes diferentes demais, não consigo compará-los de maneira honesta, sem mencionar o óbvio avanço tecnológico que facilita efeitos visuais.

Mas Vileneuve peca quando abre a boca para falar que “sua obra”  (puxa o pé dele Frank Herbert) foi feita apenas para ser admirada no cinema. É óbvio que uma película projetada em uma tela de cinema é muito mais atraente do que uma TV ou tela de celular. Quando fala assim o diretor se esquece que a realidade não é apenas como ele quer, e durante uma pandemia não há obra de gênio algum que compense o risco de se pegar COVID 19

Independente de onde você assistir Duna é impressionante visualmente e tem a história contada de uma maneira que achei harmoniosa. Não há a sensação de que alguma parte foi feita às pressas para não afetar a edição do filme, tenho a impressão inclusive que o diretor foi muito mais fiel ao material original do que a primeira adaptação.

É uma impressão de fã, que adorou as mais de duas horas de filme que passaram como um sonho. Às vezes confuso, nebuloso, mas mostrando que a história estava apenas começando – por isso as diversas visões de diversas versões do que poderia acontecer.

As caracterizações dos Harkonnen, Fremem e Atreides é fenomenal, elas tem suas características marcantes mas não se tornam alienígenas o suficiente para não reconhecermos sua humanidade. E, dessa vez, apesar da repulsa, não há o nojo que mencionei acima.

Paul Atreides e Chani - 2021 - Blog Farofeiros

Mas, obviamente, essa é a história de Paul Atreides e apenas o início de sua jornada.Em suas visões podemos imaginar o que está por vir. A importância de sua mãe para a história e o poder da especiaria são tramas interessantes que se resolverão no futuro próximo nos cinemas. Algumas pessoas com quem conversei acharam que o filme acaba meio que “do nada”, mas acredito que essa sensação é pela ansiedade de querer mais… Ou então esperando uma grande explosão com o mocinho andando em direção à audiência como se nada estivesse acontecendo.

As excentricidades de Vileneuve acabam valendo a pena por conta da obra que criou, mesmo se você for assistir na tela de um celular você precisa assistir e se surpreender com Duna. Ficção científica à frente de seu tempo tratada da maneira como deve ser – inclusive visualmente. Mesmo com aquela minhoca gigante no poster lembrando um cu.

Por Rodrigo Castro

Debochado e inconveniente. Escritor, roteirista e designer de brincadeirinha.

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