Denis Villeneuve compensa narrativa arrastada com direção magistral em Duna – Parte 2
Depois de ter o lançamento adiado, a segunda parte do épico sci-fi Duna – Parte 2 compensa uma adaptação difícil, com 2:45 de imagens exuberantes e um clímax que faz jus ao livro de ficção mais famoso de todos os tempos.
Se em Duna – Parte 1 a expectativa era de um filme arriscado, onde podemos afirmar com tranquilidade que Villeneuve tirou um coelho da cartola, na segunda etapa o diretor nos concede um show de composição audiovisual. Assim como fez em Blade Runner 2049 e em A Chegada, seus dois grandes clássicos, em Duna Parte 2 a impressionante produção assimila imagem e som de forma que toda a escala do filme se torna grandiosa e exuberante. Villeneuve abusa de seu ótimo repertório técnico para nos ambientalizar nas extravagantes paisagens do império Sardaukar.
O filme nos faz sentir que estamos em todo e qualquer quadro diante de uma pintura fantástica e ao mesmo tempo brutalmente realista. A areia parece até mais seca nesta parte do épico e a troca de ambientes explorada de forma orgástica nos coloca em contrastes brutais, ora em desertos que parecem uma versão “habitável” porém piorada de Marte, ora em subterrâneos úmidos com imensas quantidades de água acumulada por séculos e feita literalmente do sangue derramado dos Fremen.
O contraste parece ser o grande mote do filme; se há um Paul Atreide (Timothée Chalamet) ainda confuso com sua jornada do herói que de forma abrupta entende ao chamado para o qual foi escolhido, também temos Chani Kynes (Zendaya) que, se em quase todo o primeiro filme até metade deste, permaneceu sisuda com desconfiança contínua do protagonista, em questão de segundos de tela se mostra uma Fremem doce ainda que decida a manter seus ideais.
O contraste permanece no filme inteiro levando a profundidade dada aos personagens nos livros mas de forma visual.
O adiamento do filme trouxe, para além da técnica audio visual, um contraste entre a ficção e a realidade; em março de 2024 é impossível não olhar para os Fremen, suas crenças, fé e opressão e não os correlacionar de imediato ao povo palestino que atualmente sofre um genocídio imposto por um aliado de um império em decadência.
Sabemos por experiência que Duna é uma obra difícil de ser adaptada, talvez seja menos difícil somente se a compararmos com sua irmã de gênero, A fundação de Asimov. A morosidade que faz do livro uma experiência única, nas telas deve ter sido um grande pesadelo; basta olharmos como a película de 1979 falhou miseravelmente na narrativa ainda que tivesse tido seus lampejos de extrema originalidade em termos de composição visual.
Ao fim do filme a sensação é parecida com a parte 1, Denis Villeneuve tirou água de pedra e conseguiu sim criar uma experiência que vale cada minuto para ser vista no cinema.