Categorias
Colunas

Dança da vergonha

Um pensamento sobre a dança da vergonha (dos outros).

Farofeiros, farofeires e farofeiras, existe algo que devo falar baixo e de maneira criptografada para que não seja mal-entendido. Dançar é um movimento intrínseco à musicalidade e até a comunicação de toda nossa espécie. Enquanto podemos falar que há uma arte na dança é preciso apontar que o oposto também é verdade, aí surge a dança da vergonha.

Cada passo é um tributo à coordenação de movimentos descoordenados, enquanto o público fica dividido entre a vontade de rir e de correr para salvar a própria alma gritando em agonia em algum canto do Mármore do Inferno. A mistura de pânico e fascínio pode ser considerada um ato cômico, mas não podemos dizer que isto funciona dessa maneira para todos.

Isso é uma equação diferente, não é mesmo? Será que podemos mencionar – e talvez atribuir o fato – a “atleta” Rachel Gunn? A professora de estudos culturais de 36 anos que foi dançar breaking representando a Austrália. Segundo a B-birl, sua especialidade é estilo e criatividade e não movimentos dinâmicos como de outros dançarinos.

Just Dance

A B-girl é professora universitária e tem doutorado com tese relacionada ao breaking. Sua tese “Desterritorializando o gênero na cena breakdance de Sydney: a experiência de uma B-girl fazendo B-boy”.

Ela é uma das principais “atletas” da Austrália e também representou o país em 2021, 2022 e 2023 no mundial, o World Breaking Championships. Classificou-se para Paris após ganhar o Campeonato da Oceania em 2023.

Em Paris 2024 não conseguiu nenhum ponto nas três batalhas de que participou. Oficialmente os juízes apontaram que é um sistema de nota comparativo, logo, isso significa que os rivais dela foram melhores, mas isso não quer dizer que ela foi péssima.

O breaking, arte da dança procedente da cultura hip-hop, estreou como modalidade olímpica na edição deste ano das Olimpíadas e não estará presente em Los Angeles 2028. A organização local acredita que há outras formas de atrair os jovens para os esportes.

Ela estava mesmo tentando trazer algo novo e original? Talvez. Os memes são justos? Talvez. Mas nada justifica ódio contra uma pessoa por dançar. Atacaram sua idade, atacaram sua nacionalidade e mostraram o que há de pior na internet por uma pessoa dançar fora dos padrões daquele campeonato.

Um site do grupo Globo noticiou a ausência de breaking de Los Angeles 2028 com a foto de Rachel Gunn no título. Deu a entender que a culpa é dela, sem motivo. Ainda aponto que um site de extrema direita resolveu espalhar que a atuação da “atleta” que é por conta de feminismo (!?). Quando você não pesquisa e não tem caráter tudo vira um absurdo.

Engraçado como ninguém falou do campeonato olímpico de Just Dance.

Pensamento do Dia

Quando a guerra interior não ataca faço coisas para a internet, mas a internet não vê. Por isso que o Pensamento do Dia é um vídeo meu que você não vai ver.

Por Rodrigo Castro

Debochado e inconveniente. Escritor, roteirista e designer de brincadeirinha.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Sair da versão mobile