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Babilônia tem muito filme em um filme só

Babilônia é mais de um filme em um filme.

Eu já disse aqui antes que, em todo Óscar, tem um filme que é uma “Ode ao cinema”. Em 2023 esse papel foi incubido a Babilônia do premiado diretor Damien Chazelle (Whiplash e La La Land).

Damien fez a típica e homérica homenagem à sétima arte, rememorando o começo de Hollywood lá nos anos 20, mais precisamente em 1926, e passando por grandes marcos do cinema como a introdução do som, das falas e das cores.

Para guiar essa festa orgíaca, Damien escolhe 4 personagens inspirados em pessoas reais do começo do século: Jake Conrad (Brad Pitt), Nellie LaRoy (Margot Robbie), Manuel Torres (Diego Calva) e Sidney Palmer (Jovan Adepo). Cada um com uma linha própria na narrativa que se cruzam a todo tempo nas festas, nos filmes feitos ao longo dos anos e nas TRÊS ENORMES HORAS de duração da película.

Tenho certeza que Damien, ao fazer um filme metalinguístico sobre a sétima arte, também escalou o super time de atuação para cada papel a dedo. Jake Conrad foi um grande ator da época que se vê diante do fim do seu tempo, muito semelhante a Brad Pitt que já não é mais o grande galã jovem dos anos 2000. Margot vive o intenso e jovem auge dos 30 anos em Hollywood, bem como o perigo de uma vida de celebridade embriagada na cidade das drogas, das luzes, da fama, assédio e álcool.

Babilônia - Margot Robbie - Blog Farofeiros

Diego Calva é o imigrante que se tornou um grande cineasta ao pegar o Hollywood em seu caótico início. Por fim, Nova Adepo, cujo personagem é inspirado em Curtis Mosby, vive o arquétipo do talentoso músico de Jazz que consegue romper, até certo ponto, o racismo descarado da sociedade estadunidense conquistando fama e reconhecimento.

Nas realmente ENORMES TRÊS HORAS de filme, Damein encontra tempo para apresentar cenas que com certeza foram pensadas como esquetes de anedotas do mundo do cinema. Somos apresentados à até então recente forma de captação de som ali pelos anos 20 e ao submundo das festas dignas de Marquês de Sade, onde celebridades vão para levar os próprios vícios ao extremo.

Não é à toa que vemos tantas conspirações que circulam as celebridades de Hollywood; cercados de drogas e prazeres Dionísios a todo tempo, é brutalmente comum ver que x ou y famoso de cinema se meteu com esquemas de pirâmide, seitas secretas e extorsões. É como uma escada cujo primeiro degrau é um aperto de mão e que termina em algum culto obscuro. 

Babilônia - Sidney Palmer - Blog Farofeiros

Nessa escada Damein pega a mão do espectador e trata de mostrar cada detalhe com riqueza visual e sonora. Aqui também faço um grande elogio à trilha sonora. Pensada como uma orquestra estrondosa faz da sessão um grande prazer sonoro. Faz total diferença ver este filme em uma sala de cinema. Se o enredo não é o mais surpreendente (apesar de ser ótimo), a trilha sonora explode o tempo todo e vale cada nota tocada (as cenas com Palmer inclusive são absolutamente e auditivamente deliciosas).

Babilônia não é um filme velho, é atual para as possibilidades de execução ao qual ele se propõe mas sofre de um problema: ele tem um roteiro que aparece todos os anos. Nasce e morre para o Óscar para depois ser colocado na caixa dos filmes gostosos e também próprios de serem superados nos anos seguintes no imaginário dos amantes da sétima arte. É de novo metalinguístico neste aspecto quando Elinor (Jean Smart), no papel de crítica de cinema, afirma que Hollywood é sobre ter seus filmes e atores mortos e ressuscitados para sempre. 

Babilônia pede, em todas as línguas possíveis, para ser morto, esquecido e ressuscitado pela lembrança.

Por José Fernando

Comentarista político(?) no @CoisaBoaPodcast e farofeiro no @FarofeirosCast.

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