Você pensou que um golpe de Estado seria coisa de filme, com encontros secretos, senhas trocadas em becos escuros e um plano mirabolante digno de roteiro hollywoodiano? Pois aqui é Brasil, e o que tivemos foi uma tentativa de golpe escrita em Word, revisada em reunião com generais e deixada casualmente na gaveta do Ministério da Justiça. Literalmente.
Nas alegações finais da Ação Penal 2.668, o Ministério Público Federal foi direto: Jair Bolsonaro e seus comparsas tentaram, sim, manter o poder à força após perderem as eleições de 2022. E não foi por falta de planejamento. Teve tudo — discursos inflamados, manipulação da máquina pública, espiões com crachá da ABIN e até Polícia Rodoviária Federal fazendo blitz criativa para eleitores. A tentativa de golpe só não foi concretizada porque, segundo o MPF, Exército e Aeronáutica resolveram não embarcar na maluquice.
O núcleo duro da operação incluía gente como Augusto Heleno, Anderson Torres, Mauro Cid, Braga Netto, Ramagem e outros tantos nomes que orbitavam o bolsonarismo como satélites do caos. Cada um tinha seu papel no script golpista: um redigia minuta, outro espalhava discurso de ódio, outro organizava reunião pra debater a estética do golpe (juro que não estou inventando). O resultado foi o desastre do 8 de janeiro, quando os Três Poderes foram invadidos por vândalos inspirados e inflamados por essa turma.

A defesa, claro, tenta descolar os réus do vexame, digo, do golpe. Ramagem disse que os documentos eram apenas “opiniões técnicas” e anotações pessoais (quem nunca escreveu uma carta golpista pro chefe para deixar guardada no bloco de notas, né?). Torres jurou que ser omisso não é crime. Heleno achou a denúncia confusa (não mais do que ele respondendo perguntas do próprio advogado e se incriminando). Os demais repetem o mantra do “não tem prova, Excelência”.
Mas a PGR não comprou o chororô. Para os procuradores, está tudo ali: mensagens, reuniões, planos, discursos e ações coordenadas. Nada foi espontâneo. Foi um esforço deliberado para desmontar a democracia brasileira e manter um derrotado no cargo.
Ou seja: enquanto você apagava os rascunhos do e-mail pra não passar vergonha, a cúpula bolsonarista deixava o golpe salvo no celular. E ainda teve quem usasse a fonte Comic Sans (e essa não é piada).
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Fonte: Alegações finais do Ministério Público Federal na Ação Penal 2.668, protocoladas em 14 de julho de 2025.