Quem são, onde vivem e por que diabos esse povo que vive pensando em um futuro com naves espaciais se tornou um bando de gamers conservadores.
O cara mala, misógino, sem vida que ama anime, que é racista hoje é a pessoa que está na mesma raid que você para matar um boss bem difícil. Ele é também o cara do seu time que não para de pedir cura e reclama que a culpa é, obviamente, do healer (Hanzo main feelings). O estudo da antropóloga Isabela Kalil, diretora do Núcleo de Etnografia Urbana da Fundação Escola de Sociologia e Política, aponta que estes gamers conservadores são a base bem ativa de eleitores que compactuam com a atual situação do país.
Segundo a reportagem de Helena Celestino do jornal Valor do Rio de Janeiro que os apoiadores do presidente se fragmenta em vários perfis dentro do conservadorismo moral (principalmente o religioso), neoliberalismo e direita extrema. O chamado núcleo duro é formado inicialmente por militares, seguido por religiosos e gamers, a partir daí surgem liberais e lavajatistas.
Estes gamers e nerds seriam os responsáveis pela comunicação online – redes sociais e seus respectivos grupos – são invisíveis em espaço público por não poderem usar as medalhas de Call of Duty no mundo real. Porém, online são extremamente agressivos e sem apreço pela democracia, são o tipo de babaca que vemos todos os dias em nossos jogos favoritos.
Vê-se então que a constante falta de coerência nas falas do presidente na verdade conversão com seus mais diferentes públicos, sinalizando apoio às suas causas – por mais absurdas, misóginas, homofóbicas, racistas e nazistas que sejam.
Como pessoas que tentam viver várias vidas heroicas nos mais diversos mundos resolvem que apoiar o vilão e toda a sua agenda de destruição, é a coisa certa a ser feita? Tento entender, estudo, ouço quem entende muito mais desse mecanismo criado para ludibriar os outros (mais no podcast Lado B do Rio com Orlando Calheiros) mas não compreendo. Perdi contato com amigos e familiares por conta de uma agenda preconceituosa apoiada por eles, menosprezando empatia e compaixão.
Devo lembrar ainda que estes são preceitos bíblicos, religiosos, amar o próximo como a ti mesmo é um dos 10 mandamentos que parece ser ignorado por quem diz seguir os ensinamentos de Jesus.
O gamer não é um povo fácil de lidar, e as empresas por trás dos games olham apenas números e cifrões de duas propriedades para lidar – ou não – com problemas. No Brasil uma certa “panelinha” em World of Warcraft virou merda no ventilador. #MyGameMyName tentou abrir os olhos de alguns… E tudo continua na mesma, acho que está na hora de mudar essa situação para o bem de todos.
Cuidado para não cuspir para cima.
“Nossa, falou o ateu que se faz de santo na internet kkkk”. Não. Longe de santo, muito longe. Já briguei em jogo online, já fui machista e muitas vezes racista neste blog, inclusive utilizando termos que me arrependo muito em usar. Na vida real sempre fui muito machista, o racismo funcional permeava minhas veias, além disso xingava muito no trânsito e ainda por cima passei pano para nazista por anos. Me vangloriei por ser homofóbico por muito tempo. Tudo involuntariamente, tudo pensando no meu bem apenas. O que mudou então?
Estudei, levei tapa na cara e finalmente abri os olhos para muitas das minhas atitudes. No Brasil nascemos machistas, homofóbicos e racistas, sair dessa armadilha não é fácil, mas necessário. Ainda sou machista, homofóbico e racista, mas hoje sou menos do que era antes da chamada polarização política. E como todo bom personagem de videogame subi alguns níveis, não estou mais forte nem mais rápido, estou mais antissocial do que nunca, mas evoluí – estou evoluindo. Luto para desbloquear habilidades que nunca achei que fossem necessárias, mas para isso preciso de mais experiência.
Não foi a educação, ou a criação que impediu que pautas reacionárias e conservadoras fossem repelidas pela minha personalidade. No meu caso foi a constante evolução e desenvolvimento pessoal que me impediu de cair em mentiras de poderosos que lucram com sofrimento alheio. Estou longe de ser imune à isso, mas consigo olhar com outros olhos a maioria das situações.
Mesmo pensando assim não entendo como o gamers conservadores existem por simplesmente serem a antítese de tudo o que ele vê. Como o gamer pode não evoluir ficando na área inicial matando Poring sem ganhar experiência na vida real?
Cheat para conseguir experiência mais rápido.
Empatia sempre é bom, entender que cada um vivencia uma realidade é extremamente necessário para um convívio saudável em qualquer situação: no jogo, na igreja, na balada, no bar. Você fica mais bonito por ser uma pessoa amável do que ser uma pessoa violenta. Ninguém se afasta das pessoas por ser tão amável que tiveram que chamar a polícia.
Estudo e vivência, conhecer a realidade do próximo para pelo menos tentar ver a realidade com outros olhos. Digo isso principalmente de populações fragilizadas como indígenas, quilombolas, LGBTQI+, entre outros. O estudo e aceitar que a realidade do seu próximo é normalmente diferente e possivelmente mais dura que a nossa é real.
É preciso entender hoje que ninguém está livre de erros, podemos ter opiniões BEM conturbadas sobre assuntos delicados. O importante é entender que a verdade e as amarras que a civilização moderna nos coloca podem ser afrouxadas para que possamos vislumbrar um mundo melhor. Eu, erro e provavelmente ainda irei pisar na bola em alguns desses assuntos, mas estou ciente de que estou aprendendo e errar faz parte do aprendizado.
Por onde você pode começar? Veja alguns perfis de redes sociais, sites, blogs e streamers que recomendo que você pelo menos conheça. Não precisa seguir todos de uma vez, mas acompanhe e, principalmente, escute o que estes influenciadores tem para falar:
- Wakanda Streamers: Rede de criadores de conteúdo para toda a comunidade preta.
- mimimidias: Vídeos e podcast sobre mídia. Sempre com rigor acadêmico, bom humor e muito mimimi.
- labfantasma: Um espaço dedicado à arte, cultura, música e entretenimento.
- Cristiano Barba: Corrompendo os jovens e me escarnecendo dos deuses até que me tragam um saboroso e refrescante copo de Cicuta com o Teologia de Boteco.
- Nebulla: Site do universo de cultura pop e diversidade sob uma visão feminista.
- NautilusLink: Espaço pra falar de videogames, debater videogames, e brigar por causa de videogame.
- nohandsneto: Falastrão / pai / marido / TDAH / tetraplégico / nerd. Também faz piadas ruins.
- Jessica Pinheiro: Comento sobre games, tech e eSports.
- Ronilso Pacheco: Negro, teólogo, ativista. Gosta de ler tudo que aparece na frente.
- Veronica Oliveira: Palestrante, inspiradora digital, nerd da faxina.
- normose_: História, filosofia, divulgação científica, auto-conhecimento e anti-proibicionismo.
- Delirium Nerd: O protagonismo feminino na cultura.
- Andreza Delgado: Uma das criadoras do @perifacon & @gamerperifa & @copafavelas colunista do UOL e Youtuber.
- Silvio Almeida: Professor e advogado, Presidente do Instituto Luiz Gama.
- Garotas Geeks: O melhor da cultura geek pelo olhar feminino!
- Levi Kaique Ferreira: Eng. civil, palestrante, diretor @oretalho, colunista @sitemundonegro.
- linhadotrem: Site do quadrinista e podcaster Raphael Salimena.
- Adriana Melo: desenhista brasileira de comics.
- Rita von Hunty: Drag marxista, palestrante e colunista.
- Ale Santos: Autor de #RastrosDeResistência, negro drama do storytelling e afrofuturista. Colunista na @pontejornalismo; Podcast InfiltradosNoCast.
- Ferrez: autor, colunista, youtuber e editor da Editora Comix Zone.
- paulo moreira: Tirinhas e esculhambação.
- Mussum Alive: Enquanto os leões não contarem suas histórias, os caçadores serão glorificados. @quebradapod e @bebidaliberada
- Jeff Nascimento: Defensor de Direitos Humanos, advogado, doutor em direito internacional @usponline.
- Rique Sampaio: Jornalista, designer e produtor de vídeos e podcasts. Sócio-fundador do @OverloadrBR
Tem sugestões? Dúvidas? Os comentários abaixo estão abertos mas moderados, fique a vontade para expor sua opinião. Vamos começar a construir uma gamer, nerd, geek, whatever movida pelo amor e não pelo ódio.
6 respostas em “Gamers conservadores?”
[…] média branca. Sabe aquele babaca do joguinho, é ele que o candidato está de olho por conta na base conservadora gamer que faz parte do fã clube do presidente. Racistas, misóginos e tudo que há de rum em uma turma […]
[…] Terrifics #30 inova no quesito “dispositivos de tecnologia que o fascismo quer construir”. Metamorfo é FORÇADO a se transformar em uma jaula com ele. Os conservadores pira. […]
[…] – em seu “projeto” de escola de desenvolvimento de games – façam? Jogos conservadores dos bons costumes talvez? Talvez um simulador da Paixão de Cristo que coloca o jogador para dar […]
[…] perspectiva para quando todo mundo no Brasil será realmente vacinado… Talvez se disser para o gamer conservador que a vacina virá com um processador Intel i9-10900k e com uma placa de vídeo Nvidia RTX 3080. […]
[…] grupo é visivelmente patriota e conservador, isso se traduz no visual requintado como todo povo patriota. O mundo verá a arte brasileira como […]
[…] versados na arte de enganar e ludibriar, afim de obter vantagens próprias em nome de conceitos tradicionais e conservadores. O que você achou se tratar da verdade é a maior mentira já contada pelo homem na Terra. Na […]