Toda a desconstrução em busca por uma vida saudável deu lugar novamente a homérica busca por um “padrão de beleza” questionável graças às redes sociais.
Sempre fui um crítico ao que é considerado belo no senso comum desde que me entendo por gente, e tais críticas ganharam corpo quando comecei a atuar. Percebi que o mercado tinha uma visão bem oposta da minha avaliação sobre padrões de beleza.
Se você é da minha geração, os Millennials, ou Geração Y (nascidos entre 1981 e 1995), você certamente observou como tais regras sofreram alterações nas décadas seguintes tanto para homens quanto para mulheres.
Não, eu não pretendo transcorrer sobre ambos em detalhes, mas posso citar alguns para reavivar sua memória. Tivemos as Supermodelos para as mulheres, o estilo “grego” (lembra da Alemanha em 43?) para homens. Depois, o estilo andrógeno, os grunges, etc, estilos propagados pelas estrelas da música, cinema, moda e exaltados pela mídia.
Como ator, nunca me encaixei em nenhum, porque nunca tive as simetrias consideradas perfeitas na face, inclusive, me considero um cara de beleza rústica. Sou um móvel de madeira de lei que você mantém com orgulho na sua casa de campo ou de veraneio, que acha lindo, mas não tem lugar na residência oficial, mas o que me fez me aceitar como eu sou foi a ascensão do movimento body positive e a exaltação dos corpos reais, diversidade de traços, a beleza da naturalidade e não da photoshopagem, vi nesse momento uma representação.
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Infelizmente, o que venho acompanhando é a vertiginosa queda desse movimento ao longo dos últimos dois anos, e isso me assusta. A beleza do não editado está dando lugar de forma desenfreada ao Cabeça de Ozempic ornado com ácido hialurônico e botox, muito botox.
Eu vi amigos que saíram da aceitação para adequação mais uma vez. Passaram anos de pressão midiática forçando “padrões de corpos” goela abaixo à sociedade e, quando enfim se aceitaram, as redes sociais, como traficantes, injetam em nós um novo “belo”, e não é o ex-da Gracyanne Barbosa.
E, agora, a Geração Z se junta aos Millenials para correr atrás do que ditam como “padrão de beleza”, que são, em sua maioria, inatingíveis. Junte isso a propagação de conteúdos falsos dentro das redes sociais prometendo milagres e pronto, você ganha o Kit Ansiosinho da Estrela. Tem kit para todo mundo, porque, as redes sociais te dão a ilusão da possibilidade nunca mais ser um fodido e ter um jatinho tipo Virgínia Fonseca da noite pro dia, logo, se isso acontecer, você precisa “dar chances às oportunidades”, e isso inclui atender a esses “padrões”.
E todo mundo consome, tá? É hipocrisia dizer que você acaba não se pegando vendo publicações sobre fulana que fez harmonização, sicrano que fez lipo, beltrana que postou foto de biquini, “veja o antes e depois da reeducação alimentar de Maria das Neves”.
Desde que o mundo é mundo, gente, a vaidade existe, e há provas ratificando o que a sociedade definia como o belo, o desejável, o perfeito, sobre isso não há discussão, mas o que eu trago à reflexão aqui é, além do péssimo impacto que as big techs causam na vida da sociedade, é o que está atrás da coxia que me amedronta, a segregação baseada no que a indústria midiática define como belo.
Caso não sejamos extintos pelas mudanças climáticas, 3ª Guerra Mundial ou uma nova pandemia, estamos caminhando para uma versão real do filme FEIOS, da Netflix, sem skates voadores, jovens rebeldes, mas transformados em bolsas de gel.
Você pode fazer o que quiser com o seu corpo, com o seu rosto. Minha avó dizia que a pessoa não é feia, ela é mal diagramada, mas quem define isso? Eu respondo, ninguém além de você. O importante é você se sentir bem com você, ter vaidade não é pecado, se cuidar não é ruim, mas vale refletir se isso é uma decisão sua ou estão exigindo que você siga regras de um jogo que não é possível todos jogaram.
Ps.: Vejam o exemplo da Fernanda Torres e como o mundo está apaixonado por ela sem ela precisar estar parecendo uma boneca inflável.
Volto a qualquer momento com alguma reflexão.