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V de Vampeta

V de Vampeta e o proletariado

É inegável que a dialética materialista, quando aplicada ao vasto e intrincado tablado brasileiro encontra sua mais pura expressão na figura de V de Vampeta. Não se trata aqui do atleta, um operário dos gramados cuja ferramenta (de trabalho) eram a pernas, mas da ideia, do símbolo transcendeu sua condição de proletário para além das quatro linhas para ascender.

Com bordões de efêmera popularidade à condição supérflua de celebridade midiática o sucesso veio. Sua luta de classes particular contra os donos dos meios de produção sofreu marcação fechada, criando uma verdadeira guerrilha pelo direito ao lazer bem remunerado.

Eis que surge a figura revisionista, quase um clone, o teórico Ericksen Van Petta. Especula-se em círculos acadêmicos muito específicos (e embriagados) que Van Petta seria a versão pós-estruturalista que, ao invés de chutar bolas, chutava o conceito de habitus bourdieusiano. Enquanto o operário Vampeta suava uniformizado, promovendo marcas, num materialismo vulgar, Van Petta, debruçava-se sobre a mais-valia gerada pelos direitos de imagem e a fetichização da mercadoria-craque.

O Símbolo do Vampeta

Dizem que em toda cultura existe um ícone inquestionável, uma figura do zeitgeist coletivo que transcende a existência para se tornar O Símbolo do Vampeta.

Não se trata do homem, do atleta, do galã da G Magazine ou do cidadão comum, mas de uma entidade, uma força da natureza vestida com a camisa canarinho e uma irreverência que desafiadora. Este símbolo não é forjado em aço, tão pouco no ouro, mas em momentos de pura genialidade caótica. Em um gol de calcanhar ou em uma roubada de bola que mais parece um tratado filosófico sobre a imprevisibilidade da existência.

Contudo, é necessário um veículo, uma persona que funcione como a interface entre o mortal e o divino. A Máscara do Vampeta do V de Vampeta é um artefato de poder incalculável – podendo destruir religiões e salvar nações.

Ao adornar o rosto com este símbolo o usuário comum não se disfarça, mas sim liberta seu elfo negro. Este não é um elfo comum da tradição tolkeniana, mas uma criatura sagaz, mestra do drible curto e da zoeira sem limites.

A fusão, portanto, é inevitável e cósmica. O Símbolo do Vampeta só pode ser plenamente compreendido quando observado através Da Máscara do Vampeta do V de Vampeta, pois é este o instrumento que invoca e contém a essência do Elfo negro. Juntos, formam uma “santíssima” trindade do caos ordenado, uma força que explica desde a inflação até o resultado do último jogo do bicho.

Nos vemos em um sistema de crenças onde a única heresia é levar a vida demasiado a sério, e o único ritual sagrado é a arte sublime de deixar todo mundo sem reação, seja com uma jogada impossível ou com uma foto pelado na beira da piscina.

Brasil: País Soberano

Num momento de delírio, talvez induzido pelo calor ou por uma certa melancolia pós-bronzeamento artificial com gás laranja, a nação se vê atacada por um egocêntrico bilionário que comprou as eleições em seu país. Dotado do poder do capital ele ameaça a soberania brasileira. Mas o que verdadeiramente significa ser um Brasil: País Soberano?

Seria a capacidade de escolher, de forma independente e destemida, seu próprio caminho rumo ao sucesso econômico? Ou a habilidade única de produzir uma população valente, que mesmo com os seus problemas ousa em tentar ser feliz diariamente? A soberania, nesse contexto, parece ser menos geopolítico, mas não se engane – tudo é política.

E eis que, no ápice deste debate transcendental, surge o símbolo do V de Vampeta. Este não é um “V” qualquer, este pode arremeter a vitória ou a vingança. Esta é a única linguagem diplomática universalmente compreendida do Oiapoque ao Chuí, um código de conduta não escrito que define o que é ser efetivamente brasileiro – sem o patriotismo barato.

V de Vampetaço

Em um país paralelo onde o absurdo é a moeda corrente, mais conhecido como Estragos Unidos, surge o Vampetaço, a arma definitiva da democracia brasileira. Esta arma cultural de mobilização de massas é, portanto, a chave que desbloqueia todas as portas de qualquer rival que ouse irritar brasileiros, brasileiras e brasileires.

Vampetaço já atacou Donald Trump na forma de um estado de espírito coletivo na forma de uma aplicação mental. Era um protesto etéreo, onde não havia cartazes ou gritos, mas apenas a imagem vívida de um mito sorridente, impondo toda sua insatisfação contra o imperialismo. O Vampetaço também pediu paz em Gaza em um ato de desobediência civil por meio da pura beleza atlética de um ato provocativo, mas pacífico.

Devemos utilizar com responsabilidade, sabendo que a resistência é importante, mas revidar é essencial.

Por Rodrigo Castro

Debochado e inconveniente. Escritor, roteirista e designer de brincadeirinha.

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