Finalmente! Depois de anos tropeçando entre dinossauros domesticados, cidades invadidas e híbridos sem sentido, Jurassic World Rebirth faz jus ao seu nome e entrega exatamente o que essa franquia precisava: um retorno ao medo. Ao suspense. Ao respeito por criaturas que, sozinhas, já bastam para causar pânico.
A vibe do primeiro e terceiro Jurassic Park volta com força aqui. A cena do mosassauro, em especial… cara, que cena. Que tensão, que direção, que absurdo de entrega. A sequência do Rex e o bote também é um baita acerto, e tudo isso sem precisar de “mais dentes”, “mais garras” ou “mais barulho”. Só dinossauros. De verdade. Como deve ser.
E falando em acertos, a cena dos titanossauros no vale é de arrepiar. Chorei sim. É aquele tipo de momento que faz qualquer fã da franquia voltar a ser criança. A trilha clássica tocando, o Dr. Loomis em prantos ao tocar um dinossauro pela primeira vez… nessa hora, todo mundo foi ele. Simplesmente lindo.
Aliás, palmas pros personagens! Finalmente construíram gente de verdade nessa nova fase da franquia. Zora (Scarlett Johansson), Henry (Jonathan Bailey) e Kincaid (Mahershala Ali) formam um trio excelente, com química, profundidade e sem precisar de romance forçado no meio do apocalipse jurássico. Amém por isso.
A divisão em dois núcleos, os soldados e a família náufraga, também foi bem sacada. Permitiu explorar a ilha com calma, criar climas diferentes, e escapar do ritmo frenético de Jurassic Park III. E sim, obrigado por voltarmos à ilha. Chega de dinossauros dando rolê em cidades ou do Chris Pratt andando de moto com raptores no meio de Malta.
Agora um parêntese: quem foi o estúpido que teve a ideia de um roteiro onde “pessoas cansaram de dinossauros”? Quem que achou que um apatossauro em plena Nova York seria uma boa ideia? A cena parece saída de um spin-off ruim do Godzilla, com dinossauros vagando por avenidas como se fossem pombos urbanos. A intenção era mostrar que a humanidade se acostumou com essas criaturas e tratam elas como meros empecilhos no dia a dia? Porque, se sim, falharam miseravelmente. QUALQUER ser humano com um mínimo de alma ia reagir com deslumbramento. Mostrar que dinossauros viraram “rotina” só evidencia o quão preguiçoso esse conceito se tornou nos filmes anteriores. Preguiçoso, estúpido e desrespeitoso com a franquia inteira.



E o cúmulo: crianças dizendo que “odeiam” dinossauros e que “não queriam que tivessem voltado”. COMO?! Desde quando uma criança vê um T-Rex e reage como quem viu um boleto atrasado? Essa ideia de que o mundo “se cansou” dos dinossauros é tão estúpida, tão antinatural, que dá vontade de entrar no filme e dar um choque de realidade em cada roteirista. Mostra uma baleia azul pra alguém e vê se a pessoa não fica boquiaberta. Leva um tigre num zoológico e vê se o olhar não enche de fascínio. QUALQUER documentário de vida selvagem fascina! E aí querem que eu acredite que uma criança olha pra um tricerátops e diz “ah não, que saco, mais um”? Ah se foder. Isso é tipo dizer que a humanidade se cansou da natureza, da aurora boreal, de uma baleia saltando do oceano ou um grande felino caçando. NÃO. ACONTECE.
Agora… os híbridos. De novo, pra quê? Já não aprendemos com o Indominus, com o Indoraptor, com todos os “mais dentes” que vieram antes? O tal “mutadon” na cena do mercado é até visualmente foda (dá medo, tem presença e o design é daora) mas honestamente, se fossem raptores de verdade, o impacto seria ainda maior. Porque o terror vem do real, do que a gente já conhece. E mais: o D-Rex. O famigerado D-Rex. Ele até aparece no cold opening (que, diga-se de passagem, é um espetáculo de terror), e reaparece no clímax mas… só. E mesmo nesses momentos, dá uma sensação clara de que largaram ele no meio do roteiro e esqueceram de dar propósito. Parecia que ia ser a peça central de um debate sobre os limites da ciência, “jogar deuses”, dilemas morais, tudo isso. Mas não. Faltou peso. Faltou impacto. Faltou roteiro. Virou só uma skin maneira com zero consequência narrativa. Pior: virou uma distração.



No fim, Rebirth acerta em muita coisa: recupera o terror, traz bons personagens, respeita a mitologia original e entrega cenas de cair o queixo. Mas ainda tropeça no velho vício da franquia em querer “inventar demais”. Mesmo assim, é um respiro. Um começo de esperança. Um renascimento.
Oremos aos deuses jurássicos pra continuarem nessa pegada.