A enciclopédia de Elon Musk chegou cheia de erros e alucinações de IA.
A enciclopédia de Elon Musk, feita com muitas alucinações e erros de IA chegou: a Grokipedia foi criada para que o homem mais rico do mundo consiga editar o próprio perfil. Diferente da Wikipedia a Grokipedia é gerada por IA.
O bilionário vendeu o projeto como de código livre e – obviamente – “imparcial“… Porém o que realmente criou foi uma camara de eco digital de suas próprias obsessões políticas, completo com teorias de conspiração de extrema-direita, glorificação do próprio Musk e uma habilidade impressionante de distorcer fatos históricos.
Mas nem dá para ficar surpreso, né?
O lançamento foi atrasado para que a equipe (sic) pudesse trabalhar mais duro para eliminar propaganda. Irônico, considerando que o produto final é basicamente um outdoor gigante de propaganda conservadora.
Quando a Grokipedia finalmente foi ao ar na última segunda-feira, dia 27 de Outubro de 2025, a WIRED foi inicialmente bloqueada de acessar o site, recebendo uma mensagem automática. Nada como começar sua enciclopédia “aberta” impedindo a imprensa de ver o conteúdo.

A entrada sobre a escravidão nos EUA inclui uma seção sobre “justificativas ideológicas” para a escravidão, incluindo a mudança de “mal necessário” para “bem positivo”.
O artigo também critica o Projeto 1619, alegando que ele enquadrou incorretamente a escravidão como “o motor central do desenvolvimento político, econômico e cultural do país“. O Projeto 1619 é uma iniciativa jornalística do The New York Times que examina o impacto da escravidão na história americana. Obviamente a ação tem sido um alvo favorito de políticos conservadores que preferem uma versão mais “palatável” (leia-se branqueada) da história dos EUA.
Mas calma que piora!
Não há páginas sobre “casamento gay” na Grokipedia, mas há sugestões de assuntos relacionados e uma delas é “pornografia gay”. Esse artigo falsamente afirma que a proliferação de pornografia exacerbou a epidemia de HIV/AIDS nos anos 1980, culpando “comportamentos idealizados em pornografia” pela disseminação do vírus.
A página sobre “transgênero” usa repetidamente um termo amplamente reconhecido como depreciativo. O artigo refere-se a mulheres trans como “homens biológicos” e destaca as redes sociais como um potencial “contágio” que está aumentando o número de pessoas trans. desumanização, teoria da conspiração social e pânico moral. Tudo mascarado como “conhecimento aberto“.

Vivian Wilson é uma mulher transgênero e filha biológica de Elon Musk. Este detalhe mostra o quão repulsivo é o discurso e as ações do bilionário que atacam a própria filha.
Mas talvez o exemplo mais gritante das más intenções da Grokipedia seja sua página sobre George Floyd.
A Grokipedia descreve Floyd como “um homem americano com um longo histórico criminal“. Sendo que foi um homem afro-americano que foi assassinado por um policial branco em Minneapolis, Minnesota, nos Estragos Fodidos.
O Grok, a IA de Musk conectada à rede X, criticou a Grokipedia apontando que, ao detalhar extensivamente o passado criminal de Floyd, a enciclopédia ignora que isso é irrelevante para a determinação legal de homicídio em relação à sua morte. O Grok criticou a Grokpedia.
Elon Musk é o protagonista de sua enciclopédia

Não é de hoje que Elão não atura a Wikipedia.
O bilionário já tentou fazer com que mudassem o nome do site para um termo obsceno. Já tentou comprá-la e a ataca constantemente por simplesmente postar a verdade – algo que a extrema-direita mundial não gosta muito.
É sabido que o bilionário tentou editar seu perfil na Wikipedia, mas foi impedido por editores… Até uma lista de seus posicionamentos políticos existe no site. E isso o irrita um bocado.
Por isso mesmo a Grokipedia não poderia ser sutil na bajulação a Musk.
A página sobre Musk tem quase 11.000 palavras, 3.000 palavras a mais que a versão na Wikipedia. É utilizada uma linguagem elogiosa, chamando-o de visionário inovador e provocador irreverente (sic) além de incluir detalhes sobre sua vida.
Mas seus rivais (ideológicos ou comerciais) não têm a mesma “sorte”. A Grokipedia critica Parag Agrawal, ex-CEO do Twitter, por não reprimir bots na rede social. Sam Altman, CEO da OpenAI (chatGPT), ganha uma crítica sobre sua breve remoção do conselho da empresa.

Musk conseguiu transformar uma enciclopédia em um blog pessoal onde ele é o herói e o resto são todos vilões.
E ainda há a suspeita de que a Grokipedia tenha plagiado a Wikipedia.
Na rede X, alguns usuários começaram a comparar páginas lado a lado da Wikipedia e da Grokipedia. Um alegou que “Grokipedia copia diretamente da Wikipedia, palavra por palavra, formatação, estrutura, tudo”, o exemplo surgiu da busca por “efeito Miller“, um termo técnico de eletrônica.
A Grokipedia não é apenas mais uma excentricidade de bilionário, é um exemplo perigoso de como inteligência artificial pode ser utilizada para disseminar desinformação e normalizar discursos de ódio. Elon Musk está criando uma realidade alternativa onde racismo, transfobia e revisionismo histórico são tratados como algo casual.
E quando isso vem de alguém como Musk, o efeito é amplificado exponencialmente, especialmente considerando que ele controla a rede X, onde milhões de pessoas já estão expostas a um ecossistema algorítmico que favorece conteúdo conservador.
Grokipedia não é uma enciclopédia

A Grokipedia não é uma alternativa à Wikipedia, é uma ferramenta de propaganda de extrema-direita disfarçada de projeto de “conhecimento aberto”, simples assim.
Wikipedia tem seus problemas sim, ela também é editada por humanos com vieses. Assim como os livros. O site possui transparência editorial além do processo de revisão por pares e um compromisso declarado com neutralidade. De uma maneira ainda é a melhor ferramenta do tipo que existe.
A Grokipedia é literalmente Elon Musk conversando com ele mesmo ignorando a realidade. Ele cria um mundo paralelo onde seu preconceito pode viver com tranquilidade. O resultado é uma mistura tóxica de arrogância, revisionismo e ódio.
