Toda vez que aparece o nome de uma possível nova ministra para o Supremo Tribunal Federal, o Brasil entra no mesmo looping de sempre: “mas ela tem gabarito?”. E aí começa o debate que parece ser sobre currículo, mas que, na verdade, é sobre quem pode ou não ocupar o topo do poder.
Spoiler: quase sempre o “gabarito” que o povo comenta tem cor, gênero e CEP bem específicos.
O STF ainda não representa o Brasil real
Hoje o Judiciário brasileiro é, em sua maioria, formado por homens brancos. De acordo com o CNJ, apenas 1,6% da magistratura é composta por mulheres negras. E olha que elas são mais de 14% da população. Ou seja, tem algo muito errado nessa conta.
Enquanto o Brasil real é diverso, o Brasil dos tribunais ainda parece uma reunião de condomínio em bairro nobre.
Nos últimos anos, um grupo potente de juristas vem mostrando talento, preparo e excelência. Nomes como Adriana Cruz, Vera Lúcia Santana Araújo, Lívia Sant’Anna Vaz, Edilene Lôbo, Karen Luise Vilanova, Soraia Mendes e Sheila de Carvalho estão construindo uma nova narrativa no Direito.
Elas têm doutorados, publicações e reconhecimento nacional e internacional. E o detalhe: muitos desses currículos são mais robustos do que os de candidatos “tradicionais” ao STF, aqueles senhores de terno caro vindos da política de sempre.

Mérito de verdade não nasce no vácuo
Quando falam em mérito, o discurso costuma esquecer um pequeno detalhe: ninguém nasce com acesso às mesmas oportunidades. Mérito é também resultado de acesso, estrutura e reconhecimento.
Ignorar as trajetórias dessas mulheres, que chegaram onde estão apesar das barreiras raciais e de gênero, é fingir que o mérito é uma maratona em linha reta, quando na verdade umas correm em pista asfaltada e outras precisam desviar de buraco, lama e falta de luz no caminho.
Diversidade não é favor, é democracia
A escolha de uma nova ministra para o STF não deveria ser apenas mais uma disputa de nomes, mas uma chance de aproximar a Corte do país que ela representa.
Diversidade não é um agrado, é critério de legitimidade. É o que faz a democracia respirar de verdade. Porque um Supremo que se parece com o povo é mais justo, mais plural e, sinceramente, mais Brasil.
