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Diversidade e mérito: eterno papo do “gabarito” pro STF

Toda vez que aparece o nome de uma possível nova ministra para o Supremo Tribunal Federal, o Brasil entra no mesmo looping de sempre: “mas ela tem gabarito?”. E aí começa o debate que parece ser sobre currículo, mas que, na verdade, é sobre quem pode ou não ocupar o topo do poder.

Spoiler: quase sempre o “gabarito” que o povo comenta tem cor, gênero e CEP bem específicos.

O STF ainda não representa o Brasil real

Hoje o Judiciário brasileiro é, em sua maioria, formado por homens brancos. De acordo com o CNJ, apenas 1,6% da magistratura é composta por mulheres negras. E olha que elas são mais de 14% da população. Ou seja, tem algo muito errado nessa conta.

Enquanto o Brasil real é diverso, o Brasil dos tribunais ainda parece uma reunião de condomínio em bairro nobre.

Nos últimos anos, um grupo potente de juristas vem mostrando talento, preparo e excelência. Nomes como Adriana Cruz, Vera Lúcia Santana Araújo, Lívia Sant’Anna Vaz, Edilene Lôbo, Karen Luise Vilanova, Soraia Mendes e Sheila de Carvalho estão construindo uma nova narrativa no Direito.

Elas têm doutorados, publicações e reconhecimento nacional e internacional. E o detalhe: muitos desses currículos são mais robustos do que os de candidatos “tradicionais” ao STF, aqueles senhores de terno caro vindos da política de sempre.

Estátua da Justiça à frente do prédio do STF - Brasília (DF) 02-09-2025 - Recorte de Foto de Fabio Rodrigues-Pozzebom - Agência Brasil - blog FAROFEIROS

Mérito de verdade não nasce no vácuo

Quando falam em mérito, o discurso costuma esquecer um pequeno detalhe: ninguém nasce com acesso às mesmas oportunidades. Mérito é também resultado de acesso, estrutura e reconhecimento.

Ignorar as trajetórias dessas mulheres, que chegaram onde estão apesar das barreiras raciais e de gênero, é fingir que o mérito é uma maratona em linha reta, quando na verdade umas correm em pista asfaltada e outras precisam desviar de buraco, lama e falta de luz no caminho.

Diversidade não é favor, é democracia

A escolha de uma nova ministra para o STF não deveria ser apenas mais uma disputa de nomes, mas uma chance de aproximar a Corte do país que ela representa.

Diversidade não é um agrado, é critério de legitimidade. É o que faz a democracia respirar de verdade. Porque um Supremo que se parece com o povo é mais justo, mais plural e, sinceramente, mais Brasil.

Por Paola Costa

Professora, podcaster e palpiteira. Só falo de temas aleatórios, não reparem a bagunça (ou reparem).

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