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COMUNICAÇÃO PRA QUE TE QUERO?

A crise também é na comunicação

A esquerda sabe se comunicar? Claro que sabe, mas a conversa geralmente é com convertidos. Quando chamamos Bolsonaro de GENOCÍDA, quando apontamos FASCISMO na fala do Bilynskyj ou quando chamamos a Zambelli de PISTOLEIRA… estamos dialogando com a nossa bolha, que já está convencida de que essas pessoas são figuras de extrema-direita, com pautas que são opostas às nossas e com as quais o diálogo é – quase – impossível.

O que precisamos entender é que essa dita “crise de comunicação” que observamos na esquerda está na linguagem e nas narrativas. Maioria da população brasileira não se encaixarem um espectro político, não se credita como de direita ou de esquerda. Essa galera “do meio” geralmente se interessa pouco (quase nada) por política, não gosta de debater pautas que considera polêmicas, não vão ler textões e muito menos assistir vídeos longos e “‘cabeçudos” com estudos marxistas. 

COMUNICAÇÃO PRA QUE TE QUERO - Política - Raiva - Divertidamente - BLOG FAROFEIROS

Lamento informar para quem ainda não está antenado: a esquerda precisa se comunicar com essa turma “do meio” e usar a ciência e a pesquisa para isso. Existem CENTENAS de guias narrativos criados por laboratórios de comunicação (não só no Brasil) que circulam por aí e são de fácil acesso. Essas pesquisas são essenciais para entendermos como cada audiência se comporta diante de um tema, de uma discussão proposta e de notícias.

Antes que digam: “ah, mas o engajamento de fulano e ciclano”. 

Bom, o fulano e o ciclano estão falando com a mesma bolha de esquerda que prefere que chame Nicolas de extremista do que de deputado bolsonarista. Esse fulano e esse ciclano não chegam na massa pouco politizada, porque quando ela lê/ouve termos como FASCISTA, EXTREMISMA… ela para de ler ou pula o vídeo. 

A extrema-direita chega nessas pessoas menos politizadas? 

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CHEGA. Porque tem MÉTODO. É pesquisa, é ciência, usada em favor dessa comunicação de massa. Vamos pegar um exemplo: quando Bolsonaro aparecia em um carro de som com uma fala contra o Supremo Tribunal Federal e proferindo termos pejorativos contra ministros, pessoas que PESQUISAM comunicação analisavam o discurso. Entendiam quais palavras acionaram gatilhos que faziam aquela galera se manifestar positivamente, o que era o ápice do discurso, quais expressões acabavam caindo “na boca do povo” nas redes sociais. 

A extrema-direita tem, também, centenas de guias narrativos e comunicadores que ensinam como trabalhar storytelling, narrativas, acionar gatilhos de atenção. E eles usam esses guias, eles não são burros como você pensa (ok, talvez a Zambelli seja, mas é outro caso).

Enquanto isso…

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A esquerda insiste em menosprezar guias narrativos e estudos em comunicação política. Passam por cima de pautas fundamentais para sociedade em nome de um falso combate ao que chamam de identitarismo, como se a população tivesse que se satisfazer apenas com um prato de feijão e arroz (importantíssima pauta da alimentação, mas não é a única com a qual a sociedade se preocupa). 

A sociedade brasileira quer saber se vai ter escola boa pros filhos, se vai ter emprego, se a filha dele vai ser respeitada como mulher, se o filho homossexual não vai apanhar na rua, se ele vai ter segurança para sair de casa e se vai voltar do trabalho em um transporte adequado. Quer saber por que um vizinho preto foi preso com 10 gramas de maconha sendo chamado de traficante, enquanto o filho do patrão foi pego com 10 gramas e foi chamado de usuário.

Generalizo, mas vocês sabem diferenciar os comunicadores, que não aceitam usar palavras amenas, expressões que criem gatilhos de atenção e não afastem o leitor, o ouvinte, a audiência menos politizada. Sim, sei que é uma escolha de alguns comunicadores, foi nossa escolha no Farofeiros Cast – por exemplo – ser um podcast voltado a falar com a esquerda. 

Mas existem comunicadores que se colocam como populares e que querem falar com as massas: ninguém fala com as massas sem mudar a forma do discurso. Lamento, mas chamar Bolsonaro de fascista não afasta o eleitor médio dele. 

A narrativa é importante para mantermos as pautas progressistas todos os dias na imprensa, nos grandes veículos e se tornando, eventualmente, conversas de bar entre amigos. Para isso é preciso exercício de uma linguagem e de uma forma que seja prática, rápida, compreensível para a grande parte dessa população pouco ou nada politizada.


Nota do Editor: Este texto complementa e corrobora com o episódio #184 do Farofeiros Cast.

Por Paola Costa

Professora, podcaster e palpiteira. Só falo de temas aleatórios, não reparem a bagunça (ou reparem).

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